PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
15/7/2008 |
O economista que previu a crise imobiliária americana, Nouriel Roubini, acha que o governo dos Estados Unidos não deve salvar as duas gigantes Fannie Mae e Freddie Mac. A crise chega à campanha: Roubini lembrou agora que John McCain foi acusado de corrupção na última crise imobiliária americana, nos anos 80. Dois ex-presidentes do Banco Central brasileiro, Armínio Fraga e Gustavo Loyola, falam da crise aqui na coluna. A crise americana piorou muito nos últimos dias e neste fim de semana, porque atingiu esta nova fronteira, o risco de insolvência de duas instituições que são o sustentáculo do mercado hipotecário: seres híbridos e gigantes que, ao serem resgatados, representam a estatização da crise. Quando se fala em gigante, está-se querendo dizer isso mesmo. A dimensão dos ativos das duas securitizadoras é assombrosa. Armínio diz: "Elas viraram monstros do ponto de vista do tamanho, são US$5 trilhões em ativos, e isso é dinheiro até lá." Ele acha que este capítulo da crise está se encaminhando para ser resolvido pela ajuda governamental, mas que a crise para o cidadão, detentor do imóvel, vai ser longa. - O valor dos imóveis subiu de 50% a 80% acima da sua média histórica. Foi claramente uma bolha. Já caiu 10%, 20%, conforme seja a medição. A pergunta que fica no ar é: até onde vai cair? Hoje o detentor do imóvel segura a casa, adia a venda, mas vai perdendo renda. O movimento no mercado imobiliário é lento, penoso e vai mais longe - afirma Armínio. Gustavo Loyola lembra que o Brasil não está no olho do furacão desta crise; felizmente. Ela continua sendo lá. Mas nos atinge de forma lateral: - O mercado vai continuar volátil nos países emergentes. As bolsas vão permanecer sofrendo, pois a percepção de risco aumenta, e vai continuar o movimento de venda de ativos para cobrir as perdas que estão tendo no mercado americano. Nos Estados Unidos, aprofunda-se o dilema entre inflação e recessão: - O Fed vai se manter com o dilema do que combater primeiro: os riscos da recessão, ou os da inflação. Os preços continuam subindo; os dos combustíveis podem puxar ainda mais a inflação, mas o risco da recessão aumentou e ainda há a expectativa dos balanços dos bancos, que serão anunciados agora em agosto, sobre o segundo trimestre. Por isso, o Fed deve adiar a alta dos juros, preferindo combater a recessão - acredita Gustavo Loyola. O economista Nouriel Roubini teve, neste fim de semana, mais um momento da sua já longa vingança contra seus críticos. Ele previu, em 2006, que, no ano seguinte, começaria "a pior crise imobiliária americana em 50 anos". Disse que ela levaria a uma recessão e previu até o impensável: que poderia atingir as sólidas Fannie Mae e Freddie Mac. Antes de o último fim de semana chegar, ele já estava, de novo, no seu blog, confirmando mais uma previsão; que elas tinham sido atingidas. Essas duas instituições são diferentes. São privadas, têm acionistas privados, mas seus ativos são garantidos pelo governo federal. São as GSE (Government Sponsored Enterprise), ou empresas garantidas pelo governo. Elas recebem US$50 bilhões por ano de subsídios, através de uma taxa de juros mais favorecida nos títulos federais que carregam. O Fed paga, nestes papéis, 100 pontos bases acima da taxa básica. Elas foram privatizadas décadas atrás, mas continuaram com essa relação íntima com os cofres públicos. Sua função é securitizar as hipotecas emitidas por outras financiadoras. Têm empréstimos concedidos diretamente, mas em apenas uma parte dos ativos. Porque são meio públicas, obedeciam a critérios de regulação mais rigorosos. Porém, quando a crise começou, o governo fez o oposto do que tinha que fazer: tornou mais flexíveis esses limites regulatórios, para que elas ajudassem a evitar a propagação. Aí aconteceu o inevitável: elas ficaram mais frágeis; mais expostas. Roubini acha que essas instituições não são criaturas do capitalismo; que são de um tipo de socialismo perverso, "o que socializa as perdas e deixa os lucros com o setor privado". Por isso, em artigo, brinca chamando o secretário do Tesouro e o presidente do Fed de "camaradas" Paulson e Bernanke. Sua tese é que elas não devem ser resgatadas com dinheiro do contribuinte, pois o prejuízo está agora em US$300 bilhões, o que é pouco mais que 5% do seu total de ativos. Acha que os investidores, donos dos seus títulos, devem aceitar um abatimento do valor de face dos papéis ou redução dos juros que recebem por eles, mais ou menos como fizeram os credores de países como Argentina, Rússia e Equador. Acha injusto pôr mais essa conta nas costas do contribuinte. Roubini lembrou também que o senador John McCain é um dos cinco políticos americanos acusados de corrupção na crise das entidades de poupança e empréstimo (as Savings & Loans) dos Estados Unidos, nos anos 1980. Esta crise ajuda a lembrar um fato incômodo da vida do candidato republicano, que, de novo, está pedindo o resgate das instituições financeiras em dificuldades. Até agora, os bancos já anunciaram perdas de US$400 bilhões. Isso sem falar no salvamento do Bear Stearns. Nesse fim de semana, quebrou mais um: o IndyMac. Nouriel Roubini diz que sua estimativa de US$1 trilhão de perdas estava subestimada. A crise continua no centro econômico mais poderoso do planeta. Tempos difíceis para viver um bom momento econômico como o Brasil vive. Todo o cuidado é pouco. |
Entrevista:O Estado inteligente
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