O Globo |
18/7/2008 |
Terça-feira, o presidente George Bush acalmou os americanos e o mundo: "Nossa economia está crescendo, os consumidores estão comprando, as exportações aumentam e a produtividade americana permanece forte." Num momento em que muitos empresários financistas americanos estão tirando as calças pela cabeça, Bush apenas admitiu que o país enfrentava um desafio. Foi um pronunciamento que pode ter lembrado a muitos brasileiros alguns de nossos passados presidentes, dando ao país boas notícias sobre o cruzado e o cruzado novo ou cantando as virtudes do Plano Collor. Nos Estados Unidos, fora Bush e meia dúzia de otimistas, a turma que entende das coisas parece - pelo menos para quem olha de longe - estar dividida em dois grupos: os preocupados e os apavorados. Muito parecido com o que já aconteceu aqui, quem pode esquecer? No mesmo dia da fala de Bush, o próprio presidente do Federal Reserve Bank (o banco central deles), Ben Bernanke, mesmo dizendo que não há recessão à vista, falou em "surto de inflação potencialmente perigoso" e "muito nervosismo nos mercados financeiros". A tremedeira parece que começou depois de o governo ser forçado a montar uma operação cara para salvar da falência dois gigantes do setor hipotecário, conhecidos como Fannie Mae e Freddie Mac. E o secretário do Tesouro, Henry Paulson, reconheceu que a crise no mercado financeiro americano ainda não está superada. "Não está ocorrendo progresso em linha reta," disse, mostrando ser bom de eufemismo. Mas há esperanças. Ninguém poderá dizer que o Brasil não procurou ajudar o bom vizinho. Há algum tempo, o presidente Lula tornou pública uma recomendação que disse ter feito a Bush, por telefone: "Nós aqui tivemos 26 anos sem crescimento. Agora, que estamos crescendo, você quer complicar as coisas. Dê um jeito nessa crise aí!" Isso foi registrado aqui e na imprensa americana. Não se conhece até hoje a reação do presidente americano à enérgica advertência. Com ou sem a admoestação brasileira, muita gente boa em diversos lugares - em Washington inclusive - acha que Bush não tem muito jeito para gerente de crises sérias. Tanto as internacionais como as domésticas. Caso tivesse, poderia ser bom para todo mundo, literalmente. A economia planetária mudou muito. Até alguns anos atrás, os centros de poder eram poucos e intimamente associados ao dólar. Hoje, além de Europa, Japão e EUA, há novos jogadores fortes, como China, Arábia Saudita e Rússia. E, se isso faz diferença - há quem diga que faz, e muita -, é um time nada homogêneo politicamente. Pode ser que a crise americana seja o primeiro grande teste da economia globalizada. Um analista americano, outro dia, descreveu o novo mercado internacional como uma combinação de forças econômicas sem rosto e sem estratégias políticas explícitas. Há um novo jogo na mesa, disse. E não se sabe como assegurar equilíbrio e estabilidade para todos em face de uma crise séria num dos parceiros mais fortes. Não sei, não, mas é bem capaz que, com tanta coisa em jogo, apenas mandar o presidente americano dar um jeito nessa crise aí não terá adiantado grande coisa. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, julho 18, 2008
Luiz Garcia - Um jeito nessa crise aí
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