Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 20, 2008

Fed acalmou o mercado, agora é confiar nele Alberto Tamer

E, após um choque de credibilidade, tudo voltou novamente à normalidade, pelo menos por enquanto. Em seguida a um fim de semana dramático, com as duas maiores empresas de empréstimos hipotecários dos Estados Unidos e do Brasil, a Fannie e a Freddie, sofrendo grandes quedas na bolsa, ameaçando quebrar, levando outras consigo, num movimento de queda com repercussões difíceis de se prever. O Fed, banco central americano, e o Tesouro dos Estados Unidos as socorreram sem causar mais prejuízos aos seus investidores, num domingo verdadeiramente dramático. O mercado recuperou-se, sem mortos ou feridos.

CREDIBILIDADE VOLTOU


A bolsa americana terminou bem a semana, equilibrada, após forte alta na quinta-feira e não há sinais de turbulência à vista. Decididamente, o socorro do Fed e do Tesouro permitiram restabelecer a credibilidade daquelas empresas que levantaram US$ 3 bilhões, só na segunda-feira. Agora, elas até anunciam a intenção de lançar títulos no mercado. Não deixa de ser um sinal animador, neste momento de incerteza. Muitos investidores acreditam que suas ações fortemente desvalorizadas, perderam mais de 50% do valor - podem representar agora uma oportunidade. Mas, como esta coluna tem salientado, embora menos tenso, o clima permanece instável, sujeito a surpresas e a forte oscilação, com o aplicador em bolsa de valores cada vez mais cauteloso.

E AS PERDAS AJUDARAM...

Curiosamente, o que ajudou na semana foi o fato de vários bancos anunciarem... perdas. Sim, é verdade, perdas, porém menores do se estimava. Depois do Wells Fargo, que levantou os índices, na semana anterior, nesta sexta-feira foi o Citigroup. Todos previam forte prejuízo no balanço trimestral e o que veio foi uma perda menor, de US$ 2,5 bilhões. Isso surpreendeu positivamente porque o Citi havia registrado prejuízo de US$ 11,7 bilhões com papéis relacionados ao mercado imobiliário. Pode parecer estranho ao leitor, mas é assim mesmo: nas circunstâncias atuais, perder pouco está bom, desde que a base permaneça firme e as empresas financeiras estejam conseguindo capitalizar-se nos mercados interno e internacional. E aqui há grande quantidade de recursos ociosos, principalmente nos fundos soberanos, que capitalizaram o Citi. Só nesses fundos, estima-se que existam até US$ 3 trilhões. É dinheiro do petróleo, do Oriente Médio ou das reservas de mais de US$ 2 trilhões dos fundos asiáticos, decorrentes do crescente superávit comercial. Estão devolvendo em empréstimo ou compra de ativos parte do que receberam exportando produtos a preços baixos (graças principalmente à exploração da mão-de-obra, na indústria ou no campo, que tem mais de 500 milhões de agricultores miseráveis).

FED CONTINUA AGINDO BEM

Enquanto as instituições financeiras não tiverem de recorrer novamente ao Fed ou ao Tesouro, como no caso do Bear Stearns e das duas hipotecárias, tudo continuará caminhando bem. E se isso acontecer? Vai depender da urgência e da oportunidade com que o Fed as socorrer. E Bernanke tem se mostrado extremamente capaz nessa missão. É evidente, que o mercado está longe da normalidade passada, apenas acalmou-se com mais essa ducha do Fed, isso deve permanecer até o fim do ano, mas a evidência mostra que os ataques estão sendo contidos e superados.

A SEMANA NO BRASIL

Aqui, tivemos também uma semana mais calma, com a bolsa sentindo as oscilações externas, num mercado muito concentrado em algumas grandes empresas, como a Vale e a Petrobrás. A exemplo dos Estados Unidos, é um mercado instável, e vai ficar assim por algum tempo, tornando mais difícil a busca de capitais pelas empresas. Mas, também aqui, não há nada de dramático e o setor privado vive um momento positivo, com aumento da produção. O que deve preocupá-lo, isso sim, além do custo ascendente do dinheiro, é o estreitamento do mercado mundial atingido pela desaceleração econômica.

NO BRASIL, CALMA DISPLICENTE

No Brasil, há uma calma desleixada em face da inflação que se vê não tanto na área financeira, que vai muito bem,ou no setor privado. Com a solitária exceção do Banco Central, parece haver menos nervosismo com a alta de preços, que já começa a contaminar os demais segmentos de serviços e consumo. Em Brasília, ninguém mais fala nela, só o corajoso Meirelles a apontar, não como Dom Quixote, a lança da alta de juro, alta que, acreditem, agora até a eterna lamurienta Fiesp está aceitando.

Nessa semana, porém, ficou mais claro ainda que devem ser necessários novos reajuste, pois os últimos não estão contendo o aumento do consumo. Ao mesmo tempo, a inflação mundial continua contaminando o mercado interno, via produtos importados e, em conseqüência da retração mundial, o comércio exterior está crescendo menos.

É A ELEIÇÃO... MUNICIPAL!

Mas as eleições municipais - ora, bolas, municipais! - estão levando o presidente e seus ministros a mascarar a realidade e a apresentar um quadro de imunidade à crise que não existe. É falso. A saúde da economia nacional e o bem-estar da população deveriam estar acima de interesses paroquiais.

Está faltando coragem política ao presidente Lula para dizer a verdade. Escondê-la apenas leva a sociedade a acreditar que não há riscos quando eles já estão aqui.

É preciso que este governo se conscientize de que vamos viver ainda um ano difícil, e que enfrente com responsabilidade nosso maior desafio, a inflação que cresce e caminha pelo mundo.

Não há que lembrar que os outros países estão piores na luta contra ela, mas que também não estamos bem. Não temos nada a ver com os 8% da China, com os 13,5% da Rússia. Para nós, 6% é demais, porque é simplesmente o começo que se propaga.

*E-mail at@attglobal.net

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