editorial |
O Estado de S. Paulo |
9/7/2008 |
A conferência de cúpula do G-8, formado pelas sete principais economias capitalistas e pela Rússia, deve terminar hoje sem nenhuma solução para os mais prementes problemas econômicos - inflação puxada pelos preços da comida e do petróleo, agravamento da fome nos países pobres, desemprego crescente no mundo rico e retrocesso nas condições do comércio internacional. Foram distribuídos longos documentos sobre segurança alimentar, futuro da energia, preservação ambiental, perspectivas do crescimento econômico e urgência de conclusão da Rodada Doha. Não faltou palavrório para alimentar a cobertura da imprensa, mas não houve resposta concreta a nenhum dos maiores desafios, a começar pelo dramático apelo do presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick: sem uma ação de emergência, mais 100 milhões de pessoas poderão ser lançadas na miséria, somando-se a mais de 800 milhões já afetadas pela subnutrição. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, propôs a criação de um grupo de estudos para "oferecer um diagnóstico preciso sobre as dificuldades alimentares e agrícolas e para emitir alertas sobre riscos de crises". Num comunicado, os oito chefes de governo lembraram haver-se comprometido em janeiro deste ano a destinar US$ 10 bilhões para ações de curto, médio e longo prazos de combate à fome e desenvolvimento da agricultura nos países mais pobres. Pediram de novo a suspensão de barreiras à exportação de alimentos, adotadas por uns poucos países, e recomendaram às instituições multilaterais um "esquema abrangente de ação". Para isso, não precisariam reunir-se por três dias na ilha japonesa de Hokkaido, mobilizando um enorme aparelho de segurança. O compromisso a respeito da preservação ambiental é tão pouco significativo, em termos práticos, quanto as diretrizes para a ação de emergência contra a fome. Os chefes de governo concordaram em propor à comunidade internacional um objetivo para 2050: reduzir à metade as emissões globais de carbono. Admitiram que a maior parte do esforço deverá caber às economias mais poderosas, mas a ação deverá envolver todos os países. O documento é longo e inclui referências a esquemas de financiamento e de cooperação tecnológica e menciona, ainda, a eliminação voluntária de barreiras a bens e serviços úteis à defesa do ambiente. Ninguém demonstrou, no entanto, a menor disposição de combater as barreiras comerciais ao etanol de cana, considerado ambientalmente correto pelos especialistas do Banco Mundial e das Nações Unidas. Segundo o presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso, o Brasil só poderá transformar seu etanol em commodity global se assumir "compromissos concretos" de preservar a Amazônia e de não substituir a produção de alimentos pela de biocombustíveis. Em outras palavras: a tendência, nesse caso, é a manutenção do protecionismo, enquanto as potências mais poluidoras propõem um longuíssimo prazo, até 2050, para cortar pela metade as emissões de carbono. Quanto à segurança energética e à crise do petróleo não se foi além de generalidades bem conhecidas. Voltou-se a recomendar maiores investimentos no setor petrolífero, maior eficiência no uso de recursos energéticos e desenvolvimento de tecnologias alternativas. A idéia de ampliação do G-8, com a inclusão de grandes emergentes, foi novamente posta em discussão, desta vez pelo presidente francês. Foi logo descartada, no entanto, pelo presidente americano, George W. Bush, e pelo primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi. Esses emergentes, incluídos Brasil, China e Índia, participarão, como convidados especiais, de uma discussão mais aberta. Essa discussão foi marcada para hoje, último dia da cúpula do G-8. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá falar sobre alguns de seus temas preferidos, defendendo o etanol brasileiro, criticando o protecionismo agrícola do mundo rico e mencionando a especulação financeira como uma das causas da explosão de preços dos produtos básicos. Não se pode excluir a hipótese de alguma iniciativa mais conseqüente ser proposta no último dia de reunião. Mas é uma hipótese improvável, nesse espetáculo de passividade, ante os novos desafios proporcionado pelos governantes das economias mais poderosas. |
Entrevista:O Estado inteligente
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