Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 06, 2008

Como era de se esperar....

Folha de S.Paulo,
Em busca de moderados, Obama dá guinada à direita

Risco é repetir erro de Gore em 2000, ao parecer não defender propostas coerentes

Na última semana, ele deu versão mais conservadora para Guerra do Iraque, aborto e programas federais de apoio a grupos religiosos


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Barack Obama tem deixado a direita perplexa e a esquerda indignada. Em busca do voto do eleitor norte-americano moderado, o senador democrata vem abandonando um a um pontos da plataforma progressista que lhe valeu a indicação virtual a candidato da oposição à sucessão de George W. Bush.
A guinada conservadora começou já no dia seguinte ao que declarou que era o escolhido de seu partido, em 3 de junho, quando discursou ao lobby israelense e disse que Jerusalém era indivisível, uma posição hoje só defendida pela direita de Israel. Mas vem se intensificando nos últimos dias e promete se prolongar.
Só na última semana, Obama apresentou uma versão mais conservadora de sua visão para a Guerra do Iraque, a lei que regula os métodos de espionagem eletrônica implantados por Bush, os programas federais de apoio a grupos religiosos e o direito ao aborto.
Um dos primeiros políticos a criticar publicamente a invasão norte-americana, Obama disse na quinta que "ajustará" seu cronograma de retirada das tropas americanas do solo iraquiano, antes de até 16 meses.
Dias antes, avisara que votaria a favor de medida que atualiza o Ato de Vigilância de Inteligência Estrangeira (FISA). A lei exime as companhias telefônicas de culpa retroativa por terem permitido escutas não amparadas por mandado judicial; Obama era contra a ampliação.
No mesmo dia em que fez o novo discurso sobre o Iraque, veio a público uma entrevista que deu à revista cristã "Relevant". Nela, diz que "sofrimento mental" da mulher não é justificativa para o aborto tardio, prática restrita por lei federal. A posição contraria sua defesa anterior e as organizações pró-aborto, que apoiavam Hillary Clinton e passaram a apoiar Obama quando ele venceu.
Obama criticou ainda decisão recente da Suprema Corte de não permitir pena de morte para estupradores de crianças e não criticou outra decisão da corte que na prática suspende a proibição de porte de arma em Washington, contradizendo de novo declarações anteriores.
Por fim, discursou, em Ohio, que não só vai continuar os polêmicos programas federais de Bush de auxílio grupos religiosos que prestam assistência social como quer expandi-los.

Riscos
É comum que, uma vez consagrado candidato, o aspirante à Presidência dos EUA caminhe para o centro do espectro político, em busca de ampliar sua base de eleitores. Aconteceu com Ronald Reagan, que assinou uma lei ultraliberal pró-aborto nos anos 60, ainda como governador da Califórnia, para depois se declarar contra a prática, em sua corrida presidencial, décadas depois.
Vem acontecendo o mesmo com o senador John McCain, oponente de Obama, mas em sinais semelhantes ao do democrata, por conta de sua biografia independente. Também o republicano vai para a direita vindo de posições mais progressistas. Era contra construir muro no México como medida antiimigração ilegal, por exemplo, e agora se diz a favor.
"O perigo aí é Obama repetir o erro de Al Gore em 2000", disse à Folha Mark Weisbrot, co-diretor do progressista Centro para Pesquisa Econômica e de Política, de Washington. Para o analista, o então candidato democrata não conquistou o eleitor independente e acabou alienando parte da base de seu partido. "Os moderados costuma votar na pessoa, e não na proposta. Se percebem que a pessoa não parece acreditar de verdade em nenhuma proposta, votam no adversário."
A movimentação provocou de editoriais no "New York Times" e no "Wall Street Journal", os dois principais jornais nacionais norte-americanos, e gritaria entre analistas. O diário econômico chegou mesmo a dizer que era a eleição de Obama, e não a de McCain, que representava o terceiro mandato de Bush. Obama se defendeu atacando McCain. "Ele mudou de lado em várias questões importantes ao longo da campanha. Não ligo de debater com ele sobre coerência."

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