Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 11, 2008

Celso Ming - Continua forte



Celso Ming, celso.ming@grupoestado.com.br


A expectativa de que a inflação de junho viria ainda mais braba do que a de maio não se confirmou. Mas é prematuro afirmar que a tendência seja de desaceleração. As causas da inflação continuam atuando com força.

Em junho, o custo de vida medido pelo IPCA, que também é a referência tomada pelo Banco Central para a definição dos juros, subiu 0,74%, alguma coisa menos do que o avanço de 0,79% verificado no mês anterior. Esse número ficou ligeiramente abaixo do piso das expectativas, de 0,75%, como está na Pesquisa Focus, do Banco Central.

Não dá para apontar uma tendência firme. O que foi a menos em junho pode ser a mais em julho. O importante aí não é a posição dos dentes do serrote, mas a inclinação da lâmina que, por enquanto, não está clara.

A inflação brasileira é um alcoólatra que vai tomando pileques em doses variadas de uísque e cachaça. Uma das suas causas é a disparada dos preços do petróleo, dos alimentos e das commodities metálicas. A outra causa é coisa nossa; é o consumo que avança na frente da capacidade de oferta da economia.

Nada garante que as cotações das commodities estejam em recuo. Ao contrário, continuam avançando e isso significa que a alimentação externa dos preços deve continuar.

O contra-ataque ao consumo interno excessivo por enquanto vem tendo a força de sempre do Banco Central por meio do aperto dos juros. Mas a ajuda do Tesouro é insuficiente. O superávit primário (arrecadação poupada das despesas do setor público) aumentou apenas 0,5% do PIB.

O ministro Guido Mantega afirma que o setor público já fez o que tinha de fazer. Mas isso é como um carro a 120 quilômetros por hora em rota de colisão com um barranco e o condutor alegando que já fez o que tinha de fazer porque baixou a velocidade para 100 km por hora. É preciso mais para não sair machucado...

A falta de mais determinação do governo tem lá sua explicação. Não há político que goste de conter despesas, especialmente em tempo de eleições. E isso produz efeitos. Ainda vamos ter inflação crescente nos próximos meses.

Como apontam os números da Pesquisa Focus, os agentes econômicos estão reajustando seus preços tendo como referência uma inflação de 6,4% ao longo de todo este ano e de 4,9% para o ano que vem. Mas as cinco instituições que mais acertam suas projeções (as Top 5) estão trabalhando neste ano com uma inflação de 6,6%, acima do topo da meta (de 6,5%). Ontem, a coordenadora do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, advertiu que o avanço do IPCA neste ano pode perfeitamente perfurar a cobertura do edifício.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não esconde uma preocupação nova. A de que suas advertências sobre o perigo da inflação sejam vistas como incendiárias e que, nessas condições, em vez de conter, ajudem a expandir os preços. Mas as mais recentes manifestações de Meirelles não deixaram claro o que se fará para evitar esse efeito.

Para domar os preços, o governo teria de anunciar um bom reforço do superávit primário. Mas não está claro que se sinta eleitoralmente ameaçado pela inflação .

Confira

Mais consumo - O relatório mensal da Agência Internacional de Energia (organismo financiado pelos consumidores), ontem divulgado, prevê expansão de mais de 1% no consumo de petróleo em 2009.

Lá ficou dito que a menor atividade dos países ricos reduzirá o consumo em 600 mil barris por dia. Em contrapartida, os demais países consumirão 1,2 milhão de barris a mais.

São números acima dos esperados. A Agência informa ainda que passarão por revisão a ser divulgada em agosto. Os dados ajudaram a turbinar os preços do petróleo, que fecharam com alta de 4,12% em Nova York.

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