Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 19, 2008

Argentina O fracasso do estilo Kirchner de governar

O casal ficou sozinho

Até o vice-presidente se rebela contra
o estilo populista de Cristina e seu marido

Natacha Pisarenko/AP
Festa em Buenos Aires depois da derrota do governo: um
país polarizado

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Em mais de cinco anos na Casa Rosada, Néstor e Cristina Kirchner mostraram-se invencíveis na arena política. Seus decretos eram aprovados por um Legislativo servil. Qualquer opositor, empresário ou político, era tratado como inimigo e sujeito à execração pública. Quem teimava em participar de manifestações nas ruas corria o risco de ser espancado por sindicalistas piqueteiros, financiados pelo governo. Esse é o cenário do passado. O sinal de que os argentinos estão fartos do mandonismo dos Kirchner foi dado na madrugada da última quinta-feira, quando o Senado rejeitou o aumento do imposto sobre as exportações de grãos, que respondem por 36% do comércio exterior do país. A alíquota seria atrelada ao preço no mercado internacional e podia chegar a 44%. Após um eletrizante empate entre governo e oposição, o vice de Cristina, Julio Cobos, que é também o presidente do Senado, votou contra o confisco.

Marcos Brindicci
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Mais que uma derrota, foi um desastre. Por causa desse imposto, criado por decreto em março, Cristina passou os últimos quatro meses em aberto confronto com os produtores rurais. Bloqueios realizados em estradas colocaram o abastecimento de alimentos à beira do colapso. Como os dois lados haviam chegado a um impasse, o governo tentou legitimar o imposto com sua aprovação pelo Congresso. Deu errado. Na administração de Néstor, que tinha aprovação de 70%, a economia argentina cresceu à média de 9% ao ano graças, em parte, ao aumento no preço internacional dos grãos. Também contribuíram artifícios de curto prazo: o congelamento de preços e o aumento nos gastos públicos, que crescem 40% ao ano. Após quase 130 dias de protestos e sucessivos embates com o governo, que boicotou as negociações, os agricultores tornaram-se os porta-vozes do descontentamento da população, farta de uma inflação próxima dos 30% (para o governo, que manipula descaradamente o índice, ela não passa de 8%).

O debate tributário tornou-se uma questão nacional. Às vésperas da votação, enquanto o governo e sindicalistas pelegos organizavam passeatas com 90 000 pessoas, mais de 230 000 apoiavam espontaneamente os agricultores em Buenos Aires. Nas pesquisas de opinião, a popularidade de Cristina caiu a reles 20%. Na base aliada, surgiu um racha inédito. Um em cada cinco legisladores governistas abandonou Cristina. "A oposição continua fraca, mas ganhou uma oportunidade de ouro para se fortalecer", disse a VEJA o cientista político argentino Julio Burdman. Para evitar a crise no país, o casal presidencial precisa começar a negociar. Em outras palavras, fazer política pela primeira vez. Como nunca praticaram isso – nem em Buenos Aires nem na província de Santa Cruz, onde Néstor foi governador –, as previsões seguem pessimistas.

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