Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 12, 2008

André Petry

Os débeis mentais

"Não é cômodo desagravar os dois policiais na
hora em que o país se comove com a morte brutal
de João Roberto. Não é cômodo, mas é necessário
fazê-lo, para desarmar o circo que estão montando
sobre o sangue do garoto"

Eu defendo os dois policiais militares que mataram o menino João Roberto Soares, de 3 anos, no Rio de Janeiro. Eles confundiram o carro em que o garoto estava com o carro de assaltantes e dispararam dezessete tiros. Mataram a criança e, depois da tragédia, mentiram que tudo aconteceu no meio de um fogo cruzado. O resultado é chocante, a mentira é vergonhosa, mas tenho uma palavra em favor dos policiais: eles não são produto exclusivo de seus erros pessoais, eles não são a excrescência excepcional da tropa. São, eles também, ainda que não em nível fatal, vítimas de uma polícia que não é polícia – como provam os recentes assassinatos em série cometidos por policiais.

Não é cômodo desagravar os dois policiais na hora em que o país se comove com a morte brutal de João Roberto, com o desespero de seus pais, com a foto do menino, sorridente, ao lado do irmão menor, no esplendor de sua inocência. Não é cômodo, mas é necessário fazê-lo, para desarmar o circo que estão montando sobre o sangue do garoto. O governador Sérgio Cabral, chefe último dos policiais, chamou seus subordinados de "débeis mentais" e "assassinos". Ora, os débeis mentais não vieram de Marte numa nave invisível e se infiltraram à sorrelfa na polícia do Rio, com o subversivo propósito de desmoralizá-la matando crianças inocentes. O cabo e o soldado passaram em concurso (supõe-se), foram treinados (supõe-se) e destacados para ir à rua policiar a cidade, com a devida licença da violência.

Um governador não há de ser responsável por cada tiro que seus policiais disparam, mas atribuir o grosso do problema à incompetência fatal de dois policiais é como desfilar de rainha da bateria em cima de um Caveirão. Faz barulho, mas só engana. Em São Paulo, seis policiais torturaram um jovem de 15 anos. Aplicaram-lhe choques elétricos até a morte. Ninguém tortura por engano. Os policiais do Rio achavam que dentro daquele carro havia bandidos. Estavam tragicamente equivocados. São culpados, devem ser responsabilizados nos termos da lei, mas nada vai melhorar se o circo deixar esquecer que eles não erraram sozinhos.

A "evangelicofobia" e o clarão de luz

Às centenas de pessoas que acusaram este colunista de "evangelicofóbico", por denunciar a campanha homofóbica de certos evangélicos contra a lei que criminaliza a discriminação dos gays, vai o clarão de luz de três leitores:

"Meu nome é Andréia, sou casada e tenho dois filhos do sexo masculino entrando na puberdade. Sou evangélica há 22 anos, estou cansada de hipocrisia, da minha parte e da parte dos outros. Concordo plenamente com o artigo."

"Gostaria de parabenizar o autor, que deixou bem clara a diferença entre o que a liberdade da Igreja permite e o que o direito de um estado laico deve permitir." O autor é Rahel Victor Lehenbauer, cristão luterano.

"Gostei muito da coluna", escreveu E., que pediu para não ser identificada. "Sou dona-de-casa, evangélica, e ouvi o apelo do meu pastor para que ficássemos contra a lei. Silenciei porque penso como você, penso na liberdade das pessoas, no respeito que devemos ter pelas diferenças. Tomara que pastores e ovelhas tomem consciência disso."

A mostra acima prova que o bom senso é como a luz do sol: existe para todos, inclusive para os evangélicos.

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