Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, julho 16, 2008

Ainda que mal pergunte Zuenir Ventura

Elas não são nem as perguntas mais transcendentais do momento, mas nos deixam com a pulga atrás da orelha, se ainda houvesse pulgas e elas freqüentassem as nossas orelhas. Eilas: Como se explica que um empresário rico como Daniel Dantas — rico, não, riquíssimo — se sujeite a viver com medo da polícia, a correr riscos de ser preso, a não dormir sossegado, enfim, que passe por tudo isso só para aumentar sua fortuna que já é mais do que suficiente para deixar várias gerações futuras tranqüilas? Não é para gastar, porque ele não é um consumista conspícuo, um perdulário ostentador. Ao contrário, tem hábitos morigerados, dizem. Será por pura ganância? Alguém da área psi me garante que não. Ele seria um desses jogadores inveterados que têm prazer lúdico, meio erótico em apostar, em desafiar a sorte, em ganhar. “O fato de ser dinheiro excita mais, claro, mas não é a principal motivação. O que move esse tipo de pessoa, tão dependente quanto um drogado, é a compulsão pelo jogo.” Freud, segundo o meu informante, ao analisar o caso Dostoiewski, o maior viciado em roleta da literatura, autor de “O jogador”, concluiu que o escritor não jogava por dinheiro, mas por vício.

“Com que avidez eu olhava a mesa de jogo”, escreveu o próprio no seu livro. “(...) Antes mesmo de alcançar o cassino, só de ouvir o tilintar das moedas eu me sentia prestes a desfalecer.” Portanto, em vez de chamar um analista de mercado para entender o comportamento do protagonista desse intrincado rolo, é melhor chamar um analista de alma, um psicanalista mesmo. Freud explica.

Diante das gravações mostradas pelo “Jornal Nacional”, alguém ainda tem dúvida quanto ao poder desses investigados de interferir nas investigações? Outra pergunta curiosa surgiu quando li no blog de Josias de Souza a história de Carlos Ajus, membro de um conselho que congrega dez mil entidades filantrópicas. Só em isenção tributária o órgão deixa de recolher à Previdência R$ 4 bilhões. Numa gravação autorizada, ele é flagrado oferecendo indevidamente seus serviços a uma cliente: “Eu, pra fazer tudo (...), ficaria aí nuns 100 mil, no máximo.” Nada de extraordinário hoje em dia. Se não fosse um detalhe: o personagem pilantrópico é deficiente visual.

A pergunta pode não ser politicamente correta, mas é inevitável: já imaginaram se ele enxergasse? Há mais o que perguntar, mas falta espaço. Só para terminar, uma questão que não tem a ver com o Brasil, mas que continua me intrigando — acho que só a mim, porque não vi nenhum repórter preocupado com ela. Eu gostaria de saber da Ingrid Bettancourt, cuja vida admiro, como ela explica a radical transformação física por que passou nesses últimos três meses.
Com todo o respeito, como diria o Ancelmo.

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