O Estado de S. Paulo |
19/10/2007 |
No encontro que terão hoje em Washington, os senhores do mundo econômico-financeiro têm muito para conversar. Mas pouca ação conjunta se espera deles. Esta reunião dos ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais dos sete países mais ricos do mundo (G-7) acontece numa paisagem econômica global muito diferente da que existia no último encontro, realizado há seis meses. Confira. O estouro da bolha das hipotecas de alto risco (subprime) continua produzindo estragos e não há uma idéia clara sobre seus desdobramentos. De lá para cá, o dólar deslizou 5% em relação ao euro e 3% em relação ao iene japonês. Os preços do petróleo saltaram 30% e ameaçam puxar a inflação global. Uma a uma, as projeções dos analistas são de redução da atividade econômica nos Estados Unidos e no resto do mundo rico. E, last but not least, há no ar uma certa apreensão com o aumento notório da musculatura econômica e geopolítica dos países emergentes. A questão cambial é o principal foco de tensão entre dirigentes. Quanto mais o euro vai batendo recordes históricos (como ontem) em relação ao dólar, mais os europeus manifestam inconformismo com a perda de competitividade de suas exportações e com o enfraquecimento do emprego. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, continua defendendo um dólar forte, porque teme a perda de densidade do dólar como moeda internacional de reserva. Mas os fatos vão produzindo efeito oposto. Esse debate não começou anteontem, mas o máximo que os líderes do G-7 têm conseguido é reforçar os argumentos com o governo de Pequim de que o yuan seja desvalorizado, de maneira a compensar as agruras do dólar e do resto. Os chineses ouvem e ouvem, dizem alguma coisa e, no entanto, nada de especialmente diferente põem em marcha porque também não têm motivo para mudar um jogo ganhador. Também não tem muito como avançar a idéia de enquadrar as agências de classificação de risco. Elas estão mal na foto porque distribuíram notas altas para títulos que na crise acabaram micando no mercado. O assunto entrou na pauta das discussões por pressão do ministro das Finanças da Alemanha, Peer Steinbrueck. As autoridades americanas alegam que uma regulamentação mais rígida acaba de ser imposta pela Security and Exchange Commission (SEC), o xerife do mercado financeiro americano. Todos os dias algum maioral declara que algo tem de ser feito para defender a economia mundial contra crises como a que ainda está aí. Mas esse é um discurso que também não progride porque pressupõe a adoção de controles e, no entanto, onde foram impostos, os controles foram inócuos: o mercado financeiro inventa todos os dias um instrumento novo, que escapa às supervisões convencionais. E há os emergentes. Eles incomodam cada vez mais. Mas é deles que vêm as encomendas que movimentam a economia mundial. Mal ou bem, eles ainda estão dispostos a financiar o consumo dos ricos. Estes falam em exigir mais transparência nos negócios dos emergentes. Mas não têm moral para isso. Transparência é produto escasso nas transações do mundo rico, como se viu na crise dos subprime.
Não dói. Talvez seja por mero acaso que um dos argumentos do ministro Guido Mantega para defender a aprovação da CPMF seja o mesmo que os banqueiros usam para manter a atual estrutura das tarifas bancárias. Mantega alega que a CPMF não pesa no bolso do povo. Os banqueiros divulgaram estudo em que está dito que as tarifas pesam apenas 2,23% no orçamento do pobre. Nem Mantega nem os homens da Febraban usam o argumento seja para eliminar a CPMF, seja para eliminar as tarifas. Se são tão insignificantes como dizem, por que não acabar com elas? |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, outubro 19, 2007
Celso Ming - Muita conversa e pouca ação
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