Celso Daniel foi morto por bandidos comuns.
Mas o Ministério Público acha isso muito estranho
Camila Pereira
Diário do Grande ABC | Alexandre Schneider |
O então prefeito Celso Daniel; ao lado, a delegada Elisabete Sato: o processo continua |
Passados quase cinco anos de investigação, o assassinato de Celso Daniel continua cercado de mistérios. O mais recente surgiu na semana passada, com a divulgação de um relatório produzido pela delegada da Polícia Civil de São Paulo Elisabete Sato. Em agosto do ano passado, a delegada foi indicada para presidir um inquérito, aberto a pedido de familiares do prefeito assassinado de Santo André, que tinha como objetivo identificar novos envolvidos no crime. O trabalho durou pouco mais de um ano. No último mês de setembro, em um documento que só agora veio a público, a delegada deu por concluídas as investigações – e, para perplexidade de promotores envolvidos no caso, sugeriu que a morte de Celso Daniel foi fruto de crime comum. A afirmação surpreendeu por diversos motivos. Um deles é o fato de que não cabia à policial emitir parecer sobre a natureza do assassinato. Outro é que, ao dar crédito à versão de que Celso Daniel foi vítima de uma tentativa de assalto seguida de seqüestro, a delegada ressuscita uma tese há muito tempo descartada pelo Ministério Público. Depoimentos de pelo menos cinco testemunhas e a descoberta do envolvimento do prefeito assassinado em um esquema de corrupção em Santo André levaram o Ministério Público de São Paulo a concluir, ainda em 2003, que o assassinato do petista foi um "crime de mando". Para o MP, Celso Daniel morreu porque, indicado coordenador da campanha de Lula no fim de 2001, passou a discordar da forma como a roubalheira municipal vinha sendo praticada. Sérgio Gomes da Silva, o "Sombra" – o melhor amigo do ex-prefeito e seu homem de confiança –, é o principal suspeito de ser o mandante do crime.
Apesar do barulho que provocou, o relatório de Sato não paralisou as investigações do caso. Primeiro, porque já existe um processo sobre ele tramitando na Justiça. Depois, porque o Ministério Público está decidido a continuar sozinho o trabalho que a delegada Sato deu por encerrado. Segundo o promotor Roberto Wider, de Santo André, a delegada deixou de cumprir dez das dezesseis diligências solicitadas pelo MP e não pediu a quebra de sigilos telefônicos importantes para a descoberta de novos participantes do crime – medida que foi sugerida por um investigador da equipe da própria policial. João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado, disse que sua família também estranhou o relatório. "Ficamos muito surpresos com o documento. Nas três vezes em que estivemos com a doutora Sato, ela disse ter certeza de que não se tratava de um crime comum." O que teria levado a delegada a mudar de idéia é mais uma das muitas perguntas sem resposta no caso da morte do petista.EXCLUSIVO ON-LINE | |
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