Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Milícias paramilitares já controlam 92 favelas


Fabiana Cimieri
O Estado de S. Paulo
29/12/2006

Grupos agora ameaçam tráfico na Cidade de Deus

O número de favelas controladas por milícias - grupos paramilitares de policiais, bombeiros, agentes penitenciários, seguranças e lideranças comunitárias que expulsam traficantes - mais que dobrou nos últimos 20 meses, passando de 42 para 92, segundo relatório da Secretaria de Segurança do Rio. Parte da tensão recente no Rio se deve ao fato de que as milícias ameaçam agora a Cidade de Deus, último grande reduto do tráfico na região de Jacarepaguá, zona oeste.

O fenômeno começou a ganhar corpo no fim da década de 90, quando esses grupos, organizados fora das favelas, começaram a invadi-las. Atividades paralelas ao tráfico - que fica terminantemente proibido - são assumidas pelos paramilitares, como o controle do transporte alternativo (vans, Kombis e mototáxis), a distribuição ilegal de pontos de TV a cabo e até a cobrança de taxas de moradores e comerciantes.

Fontes da Secretaria de Administração Penitenciária informaram que seu setor de inteligência já havia detectado a insatisfação dos chefes das facções, especialmente do Comando Vermelho, com prejuízos provocados pelo avanço das milícias em favelas de Jacarepaguá, Jabour e Senador Camará. Nos últimos meses, as milícias se instalaram em favelas da Ilha do Governador (com exceção do Dendê, que, segundo policiais, estaria prestes a ser invadido), próximas ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, Engenho de Dentro e Jacarepaguá. Elas formam um corredor onde será realizada boa parte da programação dos Jogos Pan-Americanos.

O primeiro lugar dominado por uma milícia foi a Favela Rio das Pedras, na mesma região da zona oeste, nos anos 80. Lá, o tráfico controlado pelo crime organizado nunca conseguiu se estabelecer. Mas os paramilitares impuseram a sua lei particular, executando criminosos e suspeitos sumariamente.

Há mais de 30 anos, também na zona oeste, áreas pobres já conviviam com grupos de extermínio formados por policiais, a chamada “polícia mineira”, que eliminava criminosos a mando de comerciantes - como ocorre também na periferia de São Paulo e na Baixada Fluminense. Mas, segundo a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, o objetivo das milícias é invadir favelas para eliminar o tráfico. A polícia mineira, por sua vez, eram formados por policiais, aposentados ou da ativa, e moradores da própria comunidade, que se uniam contra os bandidos.

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