Sucesso de Incompetência (José Negreiros)
Estacionar no Setor Comercial Sul de Brasília, área que concentra escritórios de profissionais liberais, é uma das tarefas mais complicadas da experiência humana.
Os guardadores de carro dominam a área, que tomaram após uma batalha contra seus adversários e, mais tarde, uma guerra vitoriosa contra o Governo do Distrito Federal. Com apoio dos clientes, entraram na Justiça. E o GDF não conseguiu privatizar os estacionamentos "públicos" do SCS.
A exemplo dos centros das grandes cidades brasileiras, ali se impõe uma enorme confusão formada por filas duplas (às vezes triplas), camelôs, pequenas invasões e intensa circulação humana. De vez em quando a rapa aparece, baixa o cacete e põe os ambulantes para correr. Dias depois, tudo volta à mesma.
Qualquer amador, como eu, que der uma olhada mais atenta em volta não faz diagnóstico diferente: é um milagre como se organiza informalmente espaço tão entupido e entregue à anarquia.
Isso era o que eu achava antes de começarem os problemas com o controle aéreo, que todos os dias a mídia classifica de caos, avisando que o pior ainda estar por vir.
Antes do rolo dos aviões, caos era o que eu achava que era estacionar no Setor Comercial Sul de Brasília. Agora eu vejo aquilo como uma nobre atividade, típica do empreendedorismo nacional, que se baseia em enorme criatividade e grande capacidade de superação.
Quando escrevo, o Fantástico, da Rede Globo, divulga mais uma matéria exclusiva sobre o apagão nos céus. Reproduz notas oficiais das empresas e repete: não há previsão de quando a normalidade voltará. Se voltar. Uma bela notícia para quem viaja daqui a três horas, como eu.
Nem o presidente, depois de bate-boca com as companhias, conseguiu sequer fazer com que seu governo compreendesse o que se passa. A Aeronáutica, com a conhecida teimosia dos militares, insiste em que está tudo bem.
Lula, como de costume, não perde meio ponto de popularidade. Nem o sono. Se tivesse responsabilidade, faria o que fez o governo há dez anos, no apagão de eletricidade.
Criou uma coordenação para lidar com a crise, tomou medidas para economizar energia e evitou o racionamento.
Resultado: perdeu a eleição. Esse erro Lula não cometerá de jeito nenhum.