Não há um dia em que não se descubra alguém com o rabo preso em alguma ratoeira
O BRASIL é, sem dúvida, um país especial, e não me refiro apenas a sua natureza, mas, principalmente, a seu povo, isto é, nós. García Márquez, certa vez, nos definiu como um país "grande e sensato". Sensato? É, pode ser, partindo a observação do criador de Macondo, a cidade onde tudo acontecia cem anos depois que nas outras cidades e onde nascia gente com rabo de porco. Mas donde viria essa impressão de sensatez? Talvez, quem sabe, de nosso relacionamento cordato com os países vizinhos, de nosso temperamento avesso ao passionalismo do tipo espanhol. Viria da herança lusitana, do pragmatismo português? A verdade é que a imagem que o mundo tem de nós é mais do país do futebol e do samba do que de um povo de brado heróico e retumbante.
O Brasil pode não ser retumbante, mas é surpreendente. Se é verdade que ainda não nasceu aqui ninguém com rabo de porco -pelo menos que eu saiba-, não há um dia em que não se descubra alguém que, parecendo nem rabo ter, revela-se com o rabo preso em alguma ratoeira. Foi o caso do deputado petista Juvenil Alves, o mais votado de Minas Gerais, eleito com o apoio da Igreja Católica. Advogado tributarista, Juvenil, amigo do arcebispo Walmor, era até então considerado um exemplo de cidadão íntegro e devoto. Pois, para surpresa geral, foi levado algemado por agentes da Polícia Federal, sob a acusação de chefiar uma quadrilha que desviou, dos cofres públicos, perto de um bilhão de reais.
Esse foi um susto recente, mas por muitos sustos já havíamos passado nas últimas décadas. Lembram-se do presidente Collor, eleito como moralizador e inesperadamente denunciado como corrupto pelo próprio irmão? E dos escândalos de 2005, quando, para espanto do país, o deputado Roberto Jefferson, aliado de Lula, denunciou o mensalão em entrevista a este jornal, lembram-se? Não por acaso foi então apelidado de "homem-bomba", já que se fazia explodir a si e ao governo que seu partido apoiava, deixando todos nós estarrecidos.
Por isso costumo dizer que de tédio não morreremos e que, mais facilmente, podemos morrer de susto. Se comparássemos a vida brasileira a um filme, o diretor não seria Hitchock, porque estamos mais sujeitos às surpresas do que aos suspenses. Suspenses há também, como decorrência dos sustos, mas são, quase sempre, decepcionantes, como foram, por exemplo, as CPIs, constituídas para apurar os escândalos mencionados. Pouquíssimos foram os mensaleiros cassados e os que o foram, como José Dirceu, foram por conveniência, como bodes expiatórios, para salvar a situação. Tão assustado quanto nós -mas não por de nada saber, e sim por de tudo saber e ter sido pego de calças nas mãos-, Lula tratou de se livrar de todos aqueles que podiam lhe comprometer a reeleição. Por isso foram também expulsos de cena Delúbio Soares e José Genoino, mas, todos eles, como Dirceu, continuaram a atuar pela "causa", clandestinamente. Enfim, os suspenses, aqui, terminam sempre em pizzas.
E mal tinham sido servidas as pizzas de 2005 e já alguns aloprados do PT eram presos em flagrante, no momento em que iam comprar um dossiê fajuto, por R$ 1,7 milhão. Mal dava para acreditar naquela montanha de cédulas que os jornais estamparam. E mais inacreditável ainda é que os petistas, flagrados com a maleta de dinheiro, dizem não saber como aquela grana apareceu ali! Já nós, leitores, não damos uma sorte dessas, não é mesmo?
E o apagão aéreo? Começou com a queda do Boeing da Gol, depois a operação padrão que denunciou o descontrole do sistema de controle aéreo do país. Os técnicos são poucos e ganham mal. Quando parecia que a situação se regularizara, uma pane num equipamento de controle restabeleceu o caos nos aeroportos. E logo em seguida, um novo susto: soube-se que não há no Brasil um só técnico que entenda do equipamento que entrou em pane; só não ocorreu o pior porque, por sorte, estava no país um técnico francês capacitado. E mais: revelou-se que, por três vezes, aviões de passageiros quase se chocaram no ar, passando a uma distância mínima um do outro...
Isso, nos céus, porque há sustos que ocorrem no chão: a presidente e o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal foram assaltados na Linha Vermelha, ameaçados, roubados e deixados a pé, na escuridão da via expressa. Ela, a ministra Ellen Gracie North, chefia um dos três poderes da República. E para fechar os sustos do ano, o Congresso pizzaiolo tentou mais que dobrar os ganhos de seus membros. Apertem o cinto que 2007 vai levantar vôo!
Entrevista:O Estado inteligente
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