Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 30, 2006

SERGIO COSTA Eles já sabiam.E daí?


RIO DE JANEIRO - Para entrar no clima fora-da-lei do ano aloprado, roubo a frase de leitor alheio: "O caos é sempre por excesso de competência, nunca por falta dela". O autor, Paulo André Gomes Faria, acertou em cheio ao comentar a onda de violência em "O Globo".
O governo do Estado sabia, desde novembro, até a data programada para as ações criminosas: 28 de dezembro. O resultado todo mundo leu depois: 18 mortos, 23 feridos, etc. etc. etc. As autoridades bateram tambor: "Evitamos o pior graças à ação da polícia". E mais blablablá.
Há umas duas semanas, quando se tornou público o envolvimento de nova leva de policiais com o crime organizado, soube-se que relatórios foram produzidos em vão sobre relações promíscuas de agentes da lei com máfias caça-níqueis.
O ex-secretário de Segurança, deputado eleito Marcelo Itagiba, reapareceu para dizer que já sabia de tudo o que então vinha à tona. Inclusive da suspeita de que o também eleito deputado Álvaro Lins, segundo a Polícia Federal, acumulava a chefia de polícia (na gestão de Itagiba) com a de uma quadrilha.
Se voltarmos mais um pouco, lembraremos que autoridades de São Paulo também foram prevenidas de ataques que o PCC planejava detonar -e detonou- no Estado.
Bandidos tocam o terror enquanto os responsáveis por gerir nossos impostos se vangloriam de que todo o mal nas ruas é "apenas" reação ao sufoco que a polícia impõe ao tráfico, ou aos rigores com que regimes disciplinares castigam presos mais perigosos. Quanta competência!
Se as políticas são tão bem executadas, se produzem ótimos resultados estatísticos, e se a inteligência das polícias nunca foi tão sabida, por que é que a gente continua queimando em ônibus, tomando tiro ao lado da cabine de PM, morrendo cada vez que o ladrão pé-de-chinelo se assusta com um movimento brusco dentro do carro?

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