Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 23, 2006

MERVAL PEREIRA -Sem impactos

O presidente Lula escolheu bem a véspera do Natal para cumprir uma de suas “promessas de campanha”, a de manter uma relação mais freqüente com os jornalistas, através de entrevistas coletivas. A de ontem serviu para descongelar as relações, desgastadas desde a campanha eleitoral, e, mais que isso, para dar indicações sobre como se sente e o que quer o presidente a dias de começar um segundo mandato.

As informações sobre seu estado de espírito são divergentes. Um político que esteve com ele esta semana encontrou um presidente bem disposto, apostando na melhoria da eficiência da equipe do governo devido ao melhor conhecimento da máquina pública, sem acenar com grandes mudanças. Foi esse o presidente que deu uma entrevista ontem.

Mantendo todos os ministros em seus postos, querendo dar um ar de continuidade ao segundo mandato, Lula ganha tempo para reorganizar seu Ministério longe das pressões políticas, mas também indica que não pretende fazer grandes alterações. Esse presidente tem assumido pessoalmente a coordenação política do governo, avalizando cada acordo. “O homem está bombando”, me disse ontem a senadora Ideli Salvatti, líder do PT no Senado, apostando em um segundo mandato melhor que o primeiro.

Ontem, Lula admitiu na entrevista que quer se reunir mais com os presidentes dos partidos e com os líderes da Câmara. “Se a gente não conversa com o deputado, como vai pedir voto depois?”, ressaltou, numa indicação de valorização dos aliados que certamente contará pontos na hora da definição do novo governo. Essa era uma tarefa que ele sempre delegou, ou ao ex-ministro José Dirceu e, mais recentemente, ao ministro Tarso Genro. Parece estar convencido de que tem que assumir a tarefa, por mais que lhe custe.

Outros relatos, mais de acordo com os fatos, dão conta de um presidente irritadiço, buscando uma saída para obter o crescimento de 5% do PIB ao ano, mas sem encontrar. Lula assumiu a tarefa de coordenar a equipe em busca de soluções para “destravar” a economia, mas não se satisfez até agora com as propostas apresentadas.

Esse presidente obcecado pelo crescimento interrompe ministros em meio às explanações, se recusa a assistir a apresentações com infográficos dizendo que os datashows são instrumentos para enganar presidentes, e ouve vários interlocutores, de diversas tendências, em busca de soluções que não surgiram no seu primeiro mandato, que terminará com um crescimento econômico mais próximo de 2,5% do que de 3%.

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci continua sendo um interlocutor privilegiado, o que é uma indicação de que as linhas mestras da política econômica serão mantidas. Embora queira dar um tom de continuidade natural ao seu segundo mandato, é preocupante que Lula não tenha até agora conseguido montar uma equipe que renove as esperanças em setores que não foram bem no seu primeiro mandato.

Quando diz que não tem que mexer na equipe econômica, responsável pelo sucesso maior do seu governo, está no caminho certo. O agradecimento pessoal que fez ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, por ter desistido de seu mandato de deputado federal em 2003 e não ter se candidatado novamente este ano para permanecer no governo, fortalece a posição de Meirelles e reforça a idéia de que as coisas continuarão na mesma toada no segundo mandato.

Mesmo assim, sem a presença de Palocci no comando das ações, o Ministério da Fazenda está mais vulnerável à pressão dos demais ministérios, como ficou claro no caso do reajuste do salário mínimo. Mas quando Lula diz que nunca prometeu que faria mudanças no Ministério, e que os ministros “não precisam nem vir para a posse, tá todo mundo ministro”, parece ter se contentado com uma equipe formada na maioria pelo segundo escalão dos ministérios.

Cada ministro atual tenta fazer seu lobby particular com os partidos que formam a coalizão para continuar ministro. O presidente parece estar se deixando levar por essa atitude cômoda, que faria com que seu próximo mandato já comece envelhecido. De novo mesmo, talvez um Ciro Gomes ou uma Marta Suplicy, nada muito além disso.(Continua amanhã)
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O governador eleito do Rio, Sérgio Cabral, vai dar uma demonstração clara de que a questão da segurança pública é sua prioridade: vai inaugurar, juntamente com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, no dia 15 de janeiro, o Gabinete de Gestão Integrada para colocar o Estado dentro do Sistema Único de Segurança (SUS). Participam desse grupo representantes das Forças Armadas, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária, da Polícia Civil, da Polícia Militar, num trabalho conjunto que está tendo bons resultados em Minas Gerais e no Espírito Santo.

Mais recentemente, depois da crise de segurança pública provocada pela ação de bandos criminosos, o governo de São Paulo aderiu também ao programa.

Os governadores desses quatro estados, que representam mais de 60% do PIB nacional, reuniramse ontem no Rio para formalizar uma atuação conjunta, desde troca de experiências administrativas até apoio político para ações nas áreas fiscal e tributária .

Além dos aspectos práticos dessa união do Sudeste, há significações políticas a serem ressaltadas.

Os dois governadores dos estados mais importantes comandados pelo PSDB, Serra e Aécio, são potenciais candidatos à sucessão de Lula, e os governadores do Rio e do Espírito Santo, Paulo Hartung, são do PMDB, partido que terá influência decisiva no governo federal.

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