Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 22, 2006

O ano do crédito para as famílias...


editorial
O Estado de S. Paulo
22/12/2006

O ano que se termina pode bem ser considerado como o da expansão de crédito. Nos seus 11 primeiros meses , as operações de crédito do sistema financeiro chegaram a 33,7% do PIB, ante 30,6% no mesmo período do ano anterior.

Os dados globais escondem uma realidade: as pessoas físicas foram as que mais se aproveitaram dessa expansão de crédito, com um aumento de 23,6% nas suas operações, ante 13,3% no mesmo período de 2005, enquanto os empréstimos para a indústria aumentaram 12,8%, ante 7,8% em 2005. Se considerarmos que a inflação ficará abaixo de 4% neste ano, há que reconhecer que nem a indústria nem as famílias se podem queixar de falta de crédito, embora as autoridades monetárias, com o intento de estimular o consumo, tenham favorecido o endividamento das famílias num contexto em que as taxas de juros continuam altíssimas, apesar da redução da taxa Selic ao longo do ano.

A taxa de juro média para as pessoas jurídicas (28,6% em novembro) caiu 5,2 pontos porcentuais no ano, mas a das pessoas físicas, de 53%, caiu 6,3 pontos porcentuais. As empresas não se podem endividar a esse preço, superior ao retorno da maioria dos negócios sérios, enquanto as pessoas físicas têm a ilusão de que poderão honrar seus compromissos de alguma forma, até se defrontarem com o impossível...

É verdade que a participação do crédito consignado em novembro representava 53,1% do crédito pessoal, com uma taxa de juros média de 33,5% ao ano, que, em 11 meses, apresentou redução de apenas 2,9 pontos porcentuais, mostrando que, apesar do risco muito diminuto, as instituições financeiras abusam nesse tipo de crédito.

Cabe notar que, em novembro, 87,5% do crédito consignado foi em operações para funcionários públicos ativos e inativos, e aposentados e pensionistas do INSS. Essa situação mostra as dificuldades que o governo terá para modificar o sistema do INSS, sem falar que esses devedores deverão sentir, ao longo do tempo, os efeitos do endividamento excessivo. É necessário levar em conta que as concessões de crédito consignado (que não se deve confundir com o saldo)aumentaram em 11 meses 76,8%.

O governo diz que continuará a haver expansão do crédito no próximo ano. O que será positivo se se der graças à queda acentuada das taxas de juros, especialmente para as empresas. Essa política de estimular a demanda pelo crédito precisa ser repensada pelo governo.

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