Folha de S. Paulo |
29/12/2006 |
Em meio ao horror que são os ataques indiscriminados da criminalidade, desta vez no Rio de Janeiro, não é difícil escolher que aspecto choca mais. Só podem ser os sete mortos no incêndio de um ônibus. Se se somar a eles o caso de uma família inteira queimada viva por bandidos, no interior de São Paulo, tem-se que o Brasil, nos seus dois principais Estados, resvala mais e mais para a barbárie. A verdade é que, nos últimos 30 anos, pouco mais ou menos, a sociedade foi cedendo terreno, foi recuando, acompanhando a debandada do poder público. O ladrão tinhoso, capaz de bater a carteira sem deixar marcas, foi substituído pelo portador de um revólver, pronto a atirar se a carteira não lhe é logo entregue. Os portadores de revólveres foram aumentando, foram aumentando, foram diversificando suas atividades, e a sociedade foi entregando carteiras, como se fossem anéis, para não perder os dedos. Como era fatal que acontecesse, vão-se agora os dedos e, junto com eles, o corpo todo, carbonizado em ataques selvagens. Não é o que acontece no Iraque, ainda que em escala bem maior? Mas o valor da vida humana não pode ser medido por quilo. Os sete mortos do ônibus no Rio são uma evidência de metástase tão importante quanto os milhares de mortos do Iraque. Para o Iraque, ao menos criou-se uma comissão de peritos que elaborou um relatório propondo alguma coisa, boa ou ruim, não importa tanto. No Brasil, no Rio ou em São Paulo, as autoridades divergem até sobre as causas do ataque (reação ao endurecimento nos presídios, diz o secretário de Segurança; reação às "milícias" que começam a dominar favelas, diz o chefe dos presídios). Se não sabem as causas, as autoridades menos ainda podem saber o que fazer. Ganha a barbárie. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, dezembro 29, 2006
Clóvis Rossi - Ponto para a barbárie
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