Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Stent com remédio: bom ou ruim?

O mais simples é o mais seguro

Uma pesquisa aponta os riscos
do uso do stent com medicamentos


Paula Neiva

NESTA REPORTAGEM

Stent sob suspeita

Foi colocada em xeque a segurança de um dos recursos mais importantes da cardiologia moderna: o uso de stents. O stent é uma prótese metálica posicionada no interior de artérias coronarianas obstruídas por placas de gordura, com o objetivo de normalizar o fluxo sanguíneo local (veja quadro). Existem dois tipos de stent: o farmacológico, cuja superfície é recoberta por medicamento, e o convencional. Calcula-se que 30.000 brasileiros tenham stents em suas artérias – sendo um quarto deles com medicamento. Desses, a maioria utiliza rapamicina ou paclitaxel, substâncias que inibem o crescimento de tecido, o que reduz os riscos de uma nova obstrução. Agora, no entanto, há indícios de que esses stents podem ser, para alguns pacientes, uma espécie de bomba-relógio. Segundo estudo divulgado recentemente, eles oferecem um aumento de 0,2% nos riscos de formação de coágulos, se comparados aos stents convencionais. Apesar de pequeno, o porcentual é significativo. Os coágulos elevam os riscos de infartos e de morte. "São dados surpreendentes e que pedem atenção, embora não sejam suficientes para causar o abandono da técnica ou a restrição de seu uso", diz o cardiologista Expedito Ribeiro, supervisor do serviço de hemodinâmica do Instituto do Coração, de São Paulo.

No início deste mês, a FDA, agência americana de controle de medicamentos, convocou um painel de especialistas para debater o assunto. Eles concluíram que não há razão para alarme. "Chegou-se ao consenso de que os benefícios desses stents superam quaisquer preocupações com segurança, nos casos em que a indicação da tecnologia é correta", diz o documento divulgado após a reunião. A orientação dos especialistas para quem já possui esses stents é o uso, no primeiro ano após a implantação, de dois anticoagulantes combinados: a aspirina e o clopidogrel. Depois desse período, é necessário o acompanhamento médico periódico, principalmente se o paciente somar outros fatores de risco, como obesidade e hipertensão.

Ainda não se conseguiu chegar a uma conclusão sobre as razões que levam ao aumento da formação de coágulos. Uma hipótese é que, como os remédios que revestem o stent inibem o crescimento celular, eles prejudicam o processo de cicatrização. Outra teoria diz que a parede da artéria pode desenvolver uma alergia, o que gera uma inflamação. Nas duas situações, o vaso fica mais vulnerável à formação de coágulos.

Os stents foram criados no fim da década de 80, para incrementar os resultados da angioplastia. Esse procedimento utiliza um cateter e um balão para espremer a camada de gordura formada na parede da artéria e, desse modo, aumentar a área para o fluxo de sangue. A angioplastia tinha, porém, um grande inconveniente. Metade dos pacientes precisava de uma nova revascularização. "A chegada ao mercado dos primeiros stents, no início dos anos 90, provocou uma revolução", afirma o cardiologista José Eduardo Sousa, especialista do Instituto Dante Pazzanese e do Hospital do Coração, de São Paulo. Com os stents, a taxa de recidivas caiu de 50% para 20%. O lançamento dos stents farmacológicos, em 2002, baixou esse índice para menos de 5%. As estatísticas positivas fizeram aumentar extraordinariamente o número de revascularizações por angioplastia. Há cinco anos, eram realizadas seis cirurgias para cada quatro angioplastias. Atualmente, acontece o inverso.

O painel da FDA revelou que existe uma preocupação da comunidade médica com o número exagerado de pacientes que recebem stents farmacológicos – muitos em desacordo com os protocolos. Em média, de cada dez dispositivos instalados em corações doentes, oito são recobertos por medicamentos. Cerca de 60% deles, no entanto, não respeitam as normas médicas. "É preciso ter bom senso ao recomendar o uso de stents", afirma o cardiologista Expedito Ribeiro. "Eles não devem ser indicados, por exemplo, para pacientes com lesões inexpressivas ou cujas artérias apresentam placas de gordura com mais de 2 centímetros de extensão ou disseminadas por várias artérias."

A polêmica em torno dos stents reacendeu outra discussão: a escolha entre a cirurgia e a angioplastia. Durante o painel da FDA, um dos médicos disse que os stents ofuscaram indevidamente a cirurgia. Estudos mais detalhados que confrontam os resultados da cirurgia e da angioplastia, no entanto, ainda estão em andamento.

Uma pesquisa aponta os riscos
do uso do stent com medicamentos


Paula Neiva

NESTA REPORTAGEM
Stent sob suspeita

Foi colocada em xeque a segurança de um dos recursos mais importantes da cardiologia moderna: o uso de stents. O stent é uma prótese metálica posicionada no interior de artérias coronarianas obstruídas por placas de gordura, com o objetivo de normalizar o fluxo sanguíneo local (veja quadro). Existem dois tipos de stent: o farmacológico, cuja superfície é recoberta por medicamento, e o convencional. Calcula-se que 30.000 brasileiros tenham stents em suas artérias – sendo um quarto deles com medicamento. Desses, a maioria utiliza rapamicina ou paclitaxel, substâncias que inibem o crescimento de tecido, o que reduz os riscos de uma nova obstrução. Agora, no entanto, há indícios de que esses stents podem ser, para alguns pacientes, uma espécie de bomba-relógio. Segundo estudo divulgado recentemente, eles oferecem um aumento de 0,2% nos riscos de formação de coágulos, se comparados aos stents convencionais. Apesar de pequeno, o porcentual é significativo. Os coágulos elevam os riscos de infartos e de morte. "São dados surpreendentes e que pedem atenção, embora não sejam suficientes para causar o abandono da técnica ou a restrição de seu uso", diz o cardiologista Expedito Ribeiro, supervisor do serviço de hemodinâmica do Instituto do Coração, de São Paulo.

No início deste mês, a FDA, agência americana de controle de medicamentos, convocou um painel de especialistas para debater o assunto. Eles concluíram que não há razão para alarme. "Chegou-se ao consenso de que os benefícios desses stents superam quaisquer preocupações com segurança, nos casos em que a indicação da tecnologia é correta", diz o documento divulgado após a reunião. A orientação dos especialistas para quem já possui esses stents é o uso, no primeiro ano após a implantação, de dois anticoagulantes combinados: a aspirina e o clopidogrel. Depois desse período, é necessário o acompanhamento médico periódico, principalmente se o paciente somar outros fatores de risco, como obesidade e hipertensão.

Ainda não se conseguiu chegar a uma conclusão sobre as razões que levam ao aumento da formação de coágulos. Uma hipótese é que, como os remédios que revestem o stent inibem o crescimento celular, eles prejudicam o processo de cicatrização. Outra teoria diz que a parede da artéria pode desenvolver uma alergia, o que gera uma inflamação. Nas duas situações, o vaso fica mais vulnerável à formação de coágulos.

Os stents foram criados no fim da década de 80, para incrementar os resultados da angioplastia. Esse procedimento utiliza um cateter e um balão para espremer a camada de gordura formada na parede da artéria e, desse modo, aumentar a área para o fluxo de sangue. A angioplastia tinha, porém, um grande inconveniente. Metade dos pacientes precisava de uma nova revascularização. "A chegada ao mercado dos primeiros stents, no início dos anos 90, provocou uma revolução", afirma o cardiologista José Eduardo Sousa, especialista do Instituto Dante Pazzanese e do Hospital do Coração, de São Paulo. Com os stents, a taxa de recidivas caiu de 50% para 20%. O lançamento dos stents farmacológicos, em 2002, baixou esse índice para menos de 5%. As estatísticas positivas fizeram aumentar extraordinariamente o número de revascularizações por angioplastia. Há cinco anos, eram realizadas seis cirurgias para cada quatro angioplastias. Atualmente, acontece o inverso.

O painel da FDA revelou que existe uma preocupação da comunidade médica com o número exagerado de pacientes que recebem stents farmacológicos – muitos em desacordo com os protocolos. Em média, de cada dez dispositivos instalados em corações doentes, oito são recobertos por medicamentos. Cerca de 60% deles, no entanto, não respeitam as normas médicas. "É preciso ter bom senso ao recomendar o uso de stents", afirma o cardiologista Expedito Ribeiro. "Eles não devem ser indicados, por exemplo, para pacientes com lesões inexpressivas ou cujas artérias apresentam placas de gordura com mais de 2 centímetros de extensão ou disseminadas por várias artérias."

A polêmica em torno dos stents reacendeu outra discussão: a escolha entre a cirurgia e a angioplastia. Durante o painel da FDA, um dos médicos disse que os stents ofuscaram indevidamente a cirurgia. Estudos mais detalhados que confrontam os resultados da cirurgia e da angioplastia, no entanto, ainda estão em andamento.

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