Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 24, 2006

DORA KRAMER Alegação de insanidade

Dizer que dossiê é obra de loucos ou burros é tentar tornar seus autores inimputáveis

Até agora, o roteiro da reação governista ao escândalo do dossiê Vedoin não falhou, seguiu à risca os antecessores: a escalação de culpados no segundo time, as manifestações de indignação e de repúdio, os apelos à apuração rigorosa e punição exemplar 'doa a quem doer'.

Não faltou nem o argumento-chave do advogado criminalista - o governo dispõe de um dos melhores do mercado dando expediente no Ministério da Justiça. Neste caso, a defesa é concentrada na alegação de insanidade dos réus.

Mentecaptos rematados, Freud Godoy, Gedimar Passos, Expedito Veloso, Valdebran Padilha, Hamilton Lacerda, Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Ricardo Berzoini, armaram plano à revelia dos chefes - a saber, o presidente Luiz Inácio da Silva e o senador Aloizio Mercadante - para ajudá-los e, burros que dói, terminaram criando uma complicação sem tamanho.

Mas, como são estúpidos e tudo é fruto de presença reduzida de massa encefálica nas desorientadas cabeças, tome-se emprestado ao programa humorístico de televisão o título de Organizações Tabajara e teremos, no máximo, um grupo de idiotas que não sabem o que fazem.

A 'tese' de que tudo o que se passou seria fruto de delírio e incompetência dos acusados serve à conveniência dos acusadores. É atitude pouco séria e menos ainda digna de credibilidade.

Dizer que são estultos e insanos absolve a todos de antemão e os exime de responsabilidade. Tanto os mandantes quanto os executores, pois, já que nenhum deles sabia exatamente da conseqüência de seus atos, há uma chance de que não sejam por eles culpados criminalmente.

Sendo assim, as coisas ficam reduzidas a uma brincadeira de mau gosto quando, na realidade, é tudo fruto de um plano bem engendrado, cujo defeito foi ter dado errado.

PT e governo querem trocar de papel com seus acusadores, pretendendo que são vítimas de acusações injustas. Primeiro, condenam com veemência o dossiê, depois acusam a oposição de fazer uso eleitoral da operação - esquecendo-se da ação em si.

Não demora apontarão os veículos de comunicação que noticiam os fatos como integrantes de um movimento de conspiração, coisa que já fazem de forma transversa, mas, em breve, farão de maneira direta.

Em seguida, e este será o movimento vindouro, se a eleição for para o segundo turno vão gritar que o processo eleitoral está sob suspeição, pois, se contrariarem as pesquisas, na ótica oficial haverá suspeita de fraude.

Mas, como crer em fraude, se o processo eletrônico, resguardado ademais pela fiscalização dos partidos, é tido como dos mais seguros no âmbito internacional?

Não importarão as condições objetivas frente às conveniências subjetivas de imaginar que tudo é possível, se houver a mínima possibilidade de fazer crer ao eleitorado que um eventual resultado adverso é fruto da ação nefasta dos oposicionistas e não conseqüência dos atos inconseqüentes dos governistas.



Pista nacional

Na visão dos integrantes da CPI dos Sanguessugas, muito mais útil para os esclarecimentos sobre a origem do dinheiro que pagaria o dossiê Vedoin será a perseguição dos reais sacados em bancos brasileiros que a tentativa de seguir a trajetória da entrada ilegal dos dólares apreendidos com os petistas Valdebran e Gedimar.

Por ilegal, a trajetória dos dólares é mais difícil de desvendar, enquanto o caminho dos reais só depende dos gerentes dos bancos e do uso adequado dos instrumentos de fiscalização do Banco Central.



Confiança bancária

Os documentos que chegaram à CPI só serão examinados após as eleições, a fim de não dar espaço ao governo para invocar motivação eleitoral.

Ao mesmo tempo, parlamentares de oposição manifestam receio de que suas contas salário do Banco do Brasil estejam sendo monitoradas por adversários cujos cargos se devam ao aparelhamento petista da máquina do Estado.

Lembram que no início do ano um funcionário comissionado, conhecido como 'mixirica', foi demitido depois que deputados e senadores de oposição suspeitaram que estivessem sendo vigiados e pediram providências ao chefe do Gabinete Institucional de Segurança, general Jorge Félix.

Se não houver segurança de sigilo, os parlamentares cogitam deixar de ser clientes do Banco do Brasil.



Crédito

Lula e o ministro Márcio Thomaz Bastos tomam para si o crédito pelo repúdio ao dossiê Cayman - uma montagem de acusações contra tucanos, patrocinada pela turma de Fernando Collor em 1998 - como instrumento de campanha.

Quem teve a iniciativa de avisar ao PSDB, mais especificamente a José Serra, da armação, foi Marta Suplicy, depois de ter sido procurada por familiares de Paulo Maluf, apelando ao uso do material contra o então candidato ao governo de São Paulo Mário Covas.

Marta rejeitou liminarmente, mas Thomaz Bastos se interessou pelo conteúdo do material antes de repudiá-lo em face da suspeita de fraude.

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