SÃO PAULO - Mistificação 1 - Dá-se ao difundir a tese de que os setores mais pobres do eleitorado e residentes nos grotões são mal informados e, por isso, votam em Luiz Inácio Lula da Silva, apesar dos escândalos de corrupção. Falso, como mostrou (mais uma vez, aliás) pesquisa Datafolha divulgada ontem: estão, sim, informados, ao ponto de 75% afirmarem que há corrupção no governo Lula. Mais: 83% atribuem a Lula muita (49%) ou um pouco (34%) de responsabilidade pela corrupção. Não se trata, portanto, de desinformação, mas de aceitação ou conformismo ante a corrupção. Porcentagens não muito diferentes apareceram em pesquisas relacionadas ao governo Fernando Henrique Cardoso, o que não impediu que fosse reeleito comodamente em 1998. Conclusão inescapável: se há a convicção, disseminada, de que todos os políticos são ladrões, corrupção não é fator decisivo para escolher o candidato. Vota em Lula, como votou antes em FHC, porque acha que leva mais vantagens com esse ou aquele, dependendo do momento. Mistificação 2 - O golpismo em marcha no país, ao contrário do que diz o presidente Lula, é o do governo/PT, não o da oposição. Afinal, como reconhece o próprio Lula, o ato de comprar dossiês é banditismo, e banditismo destinado a influenciar o resultado eleitoral, praticado confessadamente por gente do PT ou da campanha do presidente, não pela oposição. É golpismo ou não? Da mesma forma, o mensalão não foi invenção das elites (com as quais, de resto, Lula convive tão bem que dá a elas dez vezes mais do que aos pobres). Foi, confessadamente, "erro" de gente do PT, a tal "quadrilha" denunciada pelo procurador-geral da República. Torturar os fatos para insinuar golpismo alheio é típico de candidatos a dar algum tipo de golpe.
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