Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 24, 2006

2007 pode ser mais um ano perdido

Alberto Tamer

Sim, o próximo ano econômico já pode estar perdido. Não é apenas por causa dos escândalos políticos - e haja escândalos -, mas por vários outros fatores internos e externos que se acentuam a cada dia. Os Estados Unidos confirmam que se retraem, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial crescerá menos e o Brasil está totalmente despreparado para isso. O desafio mais grave continua sendo a aceleração do desinvestimento no Brasil associada à fuga de investimentos daqui para outros países emergentes. O leitor pode dizer, mas isso não é novidade! É, sim. Antes, víamos os investidores externos repensarem projetos e adiarem decisões. Hoje vemos o mesmo com relação às grandes empresas brasileiras no sentido inverso. Já sabemos disso, mas não havia ainda previsões oficiais.

Na quinta-feira o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Altamir Lopes, coitado, sempre tentando justificar e amainar notícias negativas, projetou que os investimentos de empresas brasileiras no exterior podem chegar a US$ 14 bilhões, um crescimento de 40% em relação aos US$ 10 bilhões estimados para este ano. Em declarações destacadas pelo jornal Valor, mostra que eles vêm num crescendo impressionante e, na verdade, praticamente equivalem aos que entram no Brasil.

O Banco Central estima a entrada de US$ 18 bilhões, neste ano, mas o mercado não acredita que passem de US$ 15 bilhões, se tanto. Os que pretendiam vir já vieram e os que não vieram vão adiar decisões diante do novo escândalo político e da forte possibilidade de o mesmo governo, cujos personagens estão envolvidos, permanecerem no poder.

As grandes empresas planejam para prazos longos e com grande antecedência. Estão ganhando muito numa economia externa superaquecida, e buscam novas oportunidades, que diminuem cada vez mais num Brasil confuso, todo embaraçado em si mesmo, todo enrolado.

Isso o diretor do BC admitiu com muita franqueza. Se o clima para atrair investimento externo era ruim, agora está péssimo. E os industriais brasileiros também sentem isso.

DIZEM QUE É BOM...

Alguns economistas até mesmo sérios dizem que isso é bom. O diretor do BC aproveita o argumento e chega até a afirmar que isso reflete “o processo de internacionalização da economia brasileira”. Mas ele mesmo admite que os números impressionam. Entre 1997 e 2003, os investimentos feitos no exterior variaram entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões. Em 2004, se descontada a operação de troca de ações da AmBev (US$ 5 bilhões), os investimentos aumentaram para US$ 4,8 bilhões. No ano passado houve um recuo, US$ 2,5 bilhões, mas neste ano, até agosto, já lá se foram US$ 6,4 bilhões. E aumenta a cada mês.

Os novos mercados agora têm sido os países da América Central, pela proximidade dos EUA, já que o Brasil vetou os EUA, a Alca, e preferiu associar-se à Venezuela(!), para formar o poderoso mercado da América do Sul.

Dois outros países entraram nos últimos meses no mercado dos investidores brasileiros, Rússia e Índia. Deixo de lado a China porque já falamos muito dela, mas quem ainda não foi irá simplesmente porque a cada mês grandes empresas brasileiras, inclusive da área financeira, instalam um escritório de representação fora do país.

PARA NÓS, FUTURO ERA ONTEM

Um argumento dos economistas, e que Altamir Lopes usa em desespero de causa, é que esses investimentos trarão dividendos. Sim, mas a longo prazo e, repetindo, cansativamente, Keynes, a longo prazo estaremos mortos. O desafio é hoje, não, hoje não, começou há anos, quando as grandes empresas multinacionais começaram a se afastar de nós, onde estrangeiro que investe está roubando o Brasil. E o que temos a curto prazo no Brasil como resultado desses investimentos? O próprio BC informa, deverão ficar em US$ 1,2 bilhão, em 2007! Mesmo que se invista no exterior, temos um cenário simplesmente preocupante de saída crescente de recursos que poderiam estar gerando mercado, emprego, exportação e riqueza no País. Eles continuarão insignificantes ainda pelo menos por mais cinco ou seis anos.

Se nós investirmos cada vez mais lá fora e eles cada vez menos aqui dentro, o resultado clássico é que estaremos criando mais empregos no exterior do que no País. Graças ao pagamento antecipado de grande parte da dívida externa, deixamos de importar poupança (empréstimos) externa, mas passamos a nos transformar em criador de emprego e riqueza externos. É aquela velha frase que inventamos, “não investe, não cresce, não cresce, não investe”.

CALAFRIOS NOS EUA

Mas eu não estaria sendo pessimista ao concentrar-me apenas no item investimento. Podemos ainda contar com mais exportações e com o crescimento da economia mundial.
Antes fosse! Nesta sexta-feira saiu um dado nos EUA que causou calafrios no mercado e deve ter causado também em Brasília - se é que, por lá, alguém se interessa por isso. De acordo com o Departamento do Comércio americano, em agosto, a construção de imóveis caiu 6%. Comparado com o mesmo mês do ano anterior, a queda foi nada menos de 19,8%! E a queda vem se sucedendo há cinco meses. Ou seja, decididamente, o setor imobiliário, que vinha há cinco anos sustentando o crescimento americano, entrou em queda que pode ser vertiginosa. Em outras palavras, a bolha está esvaziando, esgotou-se o combustível que alimentava o dínamo da economia mundial! As Bolsas sentiram, os analistas sentiram, e ninguém mais tem qualquer dúvida de que a economia americana não vai parar de crescer só no próximo ano, não. Já começou agora. E, internamente, não há nenhum outro setor para substitui o imobiliário, pois o segundo era o automobilístico, minguado, e externamente estamos ainda distante de poder contar com mais força da Europa. Só nos resta a Ásia. Ou melhor, para eles, os países desenvolvidos, não para nós. Em Brasília continuamos sonhando o sonho-pesadelo do Terceiro Mundo, da África, do Oriente, e realizando reuniões turísticas para recompor o que nunca foi composto, um acordo entre Mercosul (isso existe?) e a União Européia, que, desculpem a expressão malcriada, mas não há outra, há muito tempo já fez uma banana para nós. Eles querem mesmo é negociar com grandes blocos abertos e não com um bloco onde predominam tresloucados demagogos como o “generalíssimo” e, agora, depois do discurso na ONU, hilariante Hugo Chávez e do Evo Morales, que pegou o Brasil como vítima porque sabe que somos bonzinhos com os irmãos pobres. Só que Evo gira como uma barata tonta em torno de si e se lhe perguntarem qual é o dia de hoje, nem saberá responder...
É nestas circunstâncias, com o descaso com que os países em desenvolvimento e os emergentes mais espertos nos vêem, que iremos enfrentar um 2007 tão difícil que até os nossos próprios empresários temem e saem em busca do que não encontram aqui.

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