BRASÍLIA - Não passou despercebido o "pas-de-deux" entre Lula e Serra depois de estourar mais esse escândalo, o da compra do dossiê contra tucanos por R$ 1,7 milhão.
Na sua primeira reação, sábado passado, com a história ainda nebulosa, Lula fez uma deferência ao adversário de 2002: "O Serra tem experiência política, história política para explicar o que aconteceu".
Ao longo da semana, tensa, angustiante, os amigos de Lula (os que escaparam do mensalão) caíram feito castelo de cartas. Não se ouviu uma só agressão de Serra contra o presidente. Alckmin partiu para cima de Lula, ele mirou Mercadante.
Na quinta, Serra criticou: "Todo o PT está envolvido nisso. Você não pode falar que é um setor apenas que tem culpa e o resto não. Há uma questão ampla, geral, de gente que acha que pode atropelar o processo democrático". Não citou Lula.
Para os maldosos, Lula e Serra fizeram um pacto de "autopreservação", já que a política está implodindo e a impressão é de que não sobra pedra sobre pedra. Teriam acertado uma trégua, um basta na guerra de dossiês e de escândalos.
Para os crentes, o forte candidato à reeleição e o igualmente forte candidato a governador do Estado mais poderoso estão tentando desanuviar o ambiente político não só para os próximos quatro anos de governo mas para o presidente seguinte -que Serra gostaria de ser.
A compra de um dossiê supostamente contra Serra foi um ataque não só ao adversário de Mercadante em São Paulo mas também ao presidenciável potencial de 2010. Uma burrice, cara em todos os sentidos.
Quem queria desestabilizar Serra desestabilizou Lula e conseguiu justamente o oposto do que o próprio Lula queria: uniu o PSDB.
Pelo menos em público, nunca Alckmin, Serra e Aécio Neves estiveram tão próximos. Lula trabalha para dividir a oposição. Seus amigos, correligionários e o churrasqueiro conseguiram uni-la.
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