Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, setembro 27, 2006

Celso Ming - Rebaixamento

27/9/2006
De um ano para cá, as condições de competitividade do Brasil pioraram. Caiu da 57ª para a 66ª posição entre 125 países, de acordo com o levantamento feito pelo Fórum Econômico Mundial, a mesma instituição que produz os debates que se realizam anualmente em Davos, Suíça.

Antes de avançar, duas advertências. A primeira tem a ver com o conceito. A competitividade de um país é aferida pela sua capacidade de produzir bens e serviços a custos mais baixos do que os concorrentes.

A outra advertência está relacionada com as condições de competitividade de uma economia, que podem melhorar ou piorar em conseqüência de dois fatores em separado ou por ambos simultaneamente: ou seus competidores melhoraram ou as condições do país examinado pioraram. No caso do Brasil, é notório que foram os outros que melhoraram e, mais uma vez, o País ficou para trás.

O levantamento é feito anualmente entre março e maio a partir de um modelo desenvolvido pelo professor Xavier Sala-i-Martin, da Universidade de Columbia. Cobre uma série de requisitos da vida econômica sobre os quais instituições públicas internacionais fazem avaliações gerais e as fontes pesquisadas dão notas sobre 150 itens. No mundo todo foram ouvidos 11,2 mil líderes empresariais.

As pesquisas no Brasil foram conduzidas pela Fundação Dom Cabral e pelo Movimento Brasil Competitivo. Opinaram 194 altos executivos, gente acostumada a tomar decisões em situações adversas.

Neste ano, o campeão da competitividade é a Suíça, que subiu da 4ª posição em 2005 para a 1ª, graças à melhora em Inovação e Sofisticação do Ambiente Empresarial.

O Brasil não foi o único país a ser rebaixado. Os Estados Unidos perderam cinco posições no ranking; passaram de 1º para 6º lugar, em conseqüência da piora das condições gerais da economia. O Chile é o melhor latino-americano. Está na 27ª posição.

O Brasil apresenta excelentes condições na área de eficiência do mercado e da sofisticação dos negócios. Mas esbarra no que estamos carecas de saber: na excessiva carga tributária, má qualidade do dispêndio público, falta de confiança nos políticos, corrupção, ação do crime organizado, precariedade da infra-estrutura, juros altos demais, burocracia excessiva.

Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não gostou do desempenho do Brasil nesse levantamento. Argumentou que a percepção local é diferente, mas não convenceu. Melhor é reconhecer que nesses quesitos vamos mal ou sofrivelmente e fazer algo para mudar.

Curiosamente, os empresários brasileiros são os primeiros a sentir que estão perdendo terreno diante da concorrência externa. Mas, em geral, têm visão míope do problema. Suas críticas quase sempre desembocam em pressões sobre o governo ou para obter compensações ou para que sejam melhoradas as condições do câmbio. O que de fato importa, ou seja, a remoção dos verdadeiros obstáculos que atrapalham os negócios, fica nos discursos. É o lobby tomando prioridade sobre o encaminhamento das reformas.

Todos os dias, líderes dos setores mais atingidos pelas más condições dos negócios reclamam de tudo e, lá pelas tantas, sapecam: "Com esse câmbio não dá; estamos quebrando."

A Fiesp acaba de produzir um levantamento sobre perda de força das exportações da indústria cuja principal conclusão é a de que a queda das cotações do dólar está deteriorando as condições dos negócios. E culpam o Banco Central e os que eles chamam de ortodoxos obcecados pelo combate à inflação para a perda de mercado.

Em vez de centrar seu poder de fogo sobre a baixa qualidade do ajuste, que exige dívida elevada, juros na casa do chapéu, impostos extorsivos, o que, por sua vez, derruba o investimento, a capacidade de crescer e as condições de competitividade, esses empresários se contentam com chorar sobre o leite derramado e a pedir "mais câmbio", favores creditícios e fiscais para compensar as perdas.

Não chegam sequer a sugerir o que deveria ser feito, na opinião deles, para reverter o jogo do câmbio. O Banco Central não poderá seguir comprando US$ 3 bilhões por mês para sustentar as cotações. Os juros estão sendo derrubados e continuarão assim por mais tempo.

E, no entanto, a questão fiscal continua a precariedade que a gente conhece, solapando as condições dos negócios e a competitividade das empresas.

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