A chapa esquentou (por Lucia Hippolito)
Toda eleição que contém a possibilidade de uma reeleição é uma campanha mais morna que as demais. Isto é assim em todos os países que adotam o instituto da reeleição.
Não custa repetir: não são dois mandatos de quatro anos, mas um mandato de oito anos com um plebiscito no meio.
Entretanto, esta eleição brasileira estava pintando um tanto diferente. Antes do escândalo do mensalão, a reeleição do presidente Lula era considerada favas contadas. A oposição sequer se deu ao trabalho de cerrar fileiras em torno de um candidato. Todo mundo só pensava naquilo, isto é, em 2010.
Explodiu o escândalo do mensalão, o PT entrou na roda, os principais auxiliares de Lula foram caindo, um a um, por envolvimento com o esquema de corrupção.
O presidente perdeu popularidade e ficou na defensiva.
Foi o que bastou para a oposição subir no salto e considerar a derrota de Lula também favas contadas. A presidência lhe cairia no colo por gravidade.
No início de 2006 todas as análises políticas vislumbravam uma campanha eleitoral violentíssima, tendo em vista os propósitos belicosos de petistas e tucanos.
Mas o presidente Lula foi recuperando a popularidade. Dobrou os gastos com o Bolsa-Família, manteve seus canais com o setor financeiro bem azeitados, lançou programas para tentar recuperar prestígio junto à classe média.
E fez uma campanha sem sequer reconhecer a existência de Geraldo Alckmin – como todo mundo sabe, Lula só aceita disputar com Fernando Henrique.
Alckmin, por sua vez, hesitou muito em atacar Lula. Não é seu estilo. Pretendia continuar fazendo uma campanha para gerente de loja de departamentos até o dia da eleição.
Este clima morno reproduziu-se nos estados, e dos 18 governadores candidatos à reeleição, dez ameaçavam ganhar já no primeiro turno.
Enfim, tudo se encaminhava para uma das eleições mais sem-graça dos últimos tempos. Uns diriam que é desencanto do eleitor, outros afirmariam que é sinal de maturidade democrática. Não importa. O resultado vinha sendo uma campanha muito borocoxô, essa é a verdade.
Até que, graças ao PT, à coordenação de campanha do presidente e à assessoria de campanha de Mercadante, estourou a bomba bem no colo de Lula.
O escândalo do dossiê, se teve alguma utilidade, foi a de acordar o eleitorado. Os últimos dias têm sido de intensa animação. A imprensa acordou, as campanhas acordaram.
E está todo mundo discutindo, dando palpite. O escândalo do dossiê foi o “beijo do príncipe” que despertou a Bela Adormecida.
Isto não significa que haverá grandes mudanças no quadro apresentado pelas pesquisas. Apenas o eleitor decidiu participar um pouco mais do processo eleitoral.
Os eleitores de Lula “saíram do armário” e passaram a defender com afinco sua reeleição. Da mesma forma, os tucanos, encantados com o “presente” recebido do PT paulista, decidiram arregaçar as mangas e ir à luta.
Nos estados, mesmo os favoritos aos governos decidiram comparecer aos debates na TV. Quinta-feira tem debate na TV Globo entre os candidatos a presidente. E até Lula está inclinado a comparecer. Ainda não confirmou presença, mas também não afirmou que não vai.
Hoje devem sair duas pesquisas: Ibope e Datafolha. Sexta-feira teremos Vox Populi. Sábado, mais Ibope e Datafolha.
Daqui para domingo, vai ser como tirar a temperatura de criança com febre: termômetro de hora em hora.
A chapa esquentou. A temperatura da campanha subiu.
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, setembro 27, 2006
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