Para Alckmin, presidente da República é "o Judas dessa história, porque traiu o povo brasileiro"
Em ato "Por Um Brasil Decente", ex-presidente critica até uso de palmas para Kofi Annan em horário eleitoral de petista na TV
Tuca Vieira/Folha Imagem | Geraldo Alckmin fala durante jantar com representantes da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção |
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é Cristo, "é o demônio". Minutos depois, o presidenciável tucano Geraldo Alckmin o chamou de "Judas". As declarações foram em resposta à comparação que o petista fizera na véspera de sua situação à de Jesus Cristo, como uma vítima de traição.
"Isso não é Cristo não, isso é o demônio. E nós temos que expulsá-lo daqui", afirmou FHC em evento num clube da capital paulista, que teve público de cerca de 3.000 pessoas.
Alckmin também foi enfático. Alegando que a afirmação de Lula ofendeu o cristianismo, o ex-governador de São Paulo disparou: "Em uma ação cínica, ele ainda se compara a Cristo. É o Judas [Iscariotes, o apóstolo que traiu Jesus] dessa história. Traiu o povo brasileiro".
Segundo Alckmin, Lula "ofende a nossa história quando se compara a Tiradentes". "Tiradentes morreu porque não traiu, porque não mentiu."
Logo no início de seu discurso, FHC disse que precisava se conter para não dizer coisas impublicáveis, mas que tinha "coceira na língua" diante de tanta bobagem. FHC disse que Lula se comparou, "imodestamente" a Cristo. "Errou porque Cristo nunca foi beijar Judas, nunca foi chamar Judas de meu companheiro. Ele amanhã ou depois vai chamar de novo [os petistas afastados]: "Ah, os meninos se exaltaram, eles são assim mesmo, exageram"."
Lembrando que, no governo, permitiu que um advogado indicado pelo PT acompanhasse as investigações sobre a morte do prefeito de Santo André Celso Daniel, em 2002, FHC sugeriu que o PSDB designasse agora um advogado para apurar a origem do dinheiro para compra de dossiês. FHC também reagiu ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), segundo o qual haveria um golpe em marcha.
"Temos que acabar no voto com essa tentação que está havendo no Brasil de achar que tudo pode. Não pode não", disse, criticando até a inclusão de aplausos da despedida do ex-secretário-geral da ONU no programa de Lula. "Furtaram os aplausos do Kofi Annan e puseram na televisão, meu Deus. Até onde nós vamos?"
O ex-presidente destacou que a resposta a Lula deverá ser dada pelas urnas, neste domingo. Outro que advogou a tese de "impeachment pelo voto" foi o senador Tasso Jereissati (CE), presidente do PSDB.
"Estou torcendo para que o impeachment do Lula seja através do voto. Se não for, infelizmente, teremos um presidente sub judice, sob suspeitas. Se a população não der um basta pelo voto, a coisa poderá ficar grave", disse Jereissati.
Outro que aproveitou o evento "Por um Brasil Decente", na capital paulista, para criticar o petista foi Cesar Maia (PFL), prefeito do Rio de Janeiro.
Segundo Maia, Lula foi "dedo-duro". Ele disse isso em alusão à declaração de Lula de que o presidente do PT, Ricardo Berzoini foi o responsável pela seleção dos integrantes de sua campanha envolvidos na compra do dossiê contra tucanos .
Também foram ao evento os pefelistas Heráclito Fortes, Jorge Bornhausen e Cláudio Lembo e o candidato tucano ao governo paulista, José Serra.