LULA CULPA MAIS UMA VEZ O PT
27.09, 13h30
por Villas-bôas Corrêa, no Jornal do Brasil
Desta vez, Lula foi rápido no gatilho: tirou o corpo fora, saiu da reta e dedurou o PT, precisamente o presidente do partido, Ricardo Berzoini, como o responsável pela lambança - que tira seu sono com a ameaça de não emplacar a reeleição no primeiro turno - da operação azarada da compra do dossiê que envolveria o candidato tucano ao governo paulista, José Serra.
Não é a primeira vez que o PT é pendurado na forca, enquanto o candidato-presidente escapa por baixo do pano, distribuindo cacetadas a torto e a direita. No escândalo do mensalão e do caixa 2, que abriu a temporada interminável, o papel de vilão foi repassado ao PT.
Lula pecou pelo exagero e a afobação. Como vem fugindo da imprensa, desqualificada como adversária leviana e sem ética, aproveitou a entrevista à emissoras de rádio para responsabilizar Berzoini - substituto de José Genoino, defenestrado pelo envolvimento no mensalão. A sentença fatal merece ser reproduzida na íntegra: "É assim que é a vida humana. Você escolhe um companheiro para determinada função. No caso do pessoal que cuidava da pseudo-inteligência da minha campanha, nem fui eu que escolhi. Quem escolheu foi o presidente do partido, que era o coordenador da campanha eleitoral".
O companheiro Berzoini, a última lápide no campo-santo petista, calou a boca e mandou o recado da escusa óbvia: não é responsável pelas ações irregulares de assessores que contratou. Resumo do libreto: não há responsáveis no PT nem no governo.
No desconfortável qüiproquó, Lula arranjou um jeito de jogar cascalho no telhado trincado do vizinho. No embalo, quando espanca o "bando de aloprados" que resolveu comprar o dossiê, divide as culpas com os que ofereceram à venda o papelório. Tenta virar o jogo: "Não quero saber apenas de onde vem o dinheiro. Quero saber o conteúdo que levou essas pessoas a cometer essa barbaridade".
Reconheça-se, uma boa pergunta. Mas o candidato-presidente que não sabe de nada, e nada vê, pelo menos está devidamente informado que o golpe do dossiê é, até aqui, um didático exemplo das trapalhadas da quadrilha petista que enodoa a legenda. A curiosidade da opinião pública reclama a urgentíssima conclusão da fase preliminar da apuração da trama de marginais, inclusive com a identificação da fonte da fortuna de R$ 1,7 milhão para a compra do ainda desconhecido dossiê. E estranha as alegadas dificuldades da Polícia Federal no rastreamento da dinheirama e a previsão de que só depois das eleições saberemos sua origem.
Ora, o candidato-presidente pode oferecer uma ajuda preciosa à PF. Como chefe supremo, fundador e benemérito do PT, não custaria dedicar alguns minutos subtraídos da campanha para a investigação pessoal para inquirir a turma da casa. Pois este é um caso do PT. Denunciados, envolvidos, suspeitos, tudo é gente do Planalto.
A rodada, para obedecer a hierarquia, deve começar pelo amuado companheiro Berzoini, mantido no comando do PT. Na ante-sala, esperando a vez, seu assessor de confiança há 17 anos, despejado da sala vizinha do seu gabinete, Freud Godoy, intermediário da malograda transação. Na fila, o churrasqueiro de fama, chefe do desmontado núcleo de informação e inteligência, Jorge Lorenzetti. E o grupo de fé de Berzoini: Osvaldo Bargas, marido da secretária particular de Lula, Mônica Zerbinato - que, em dupla com Lorenzetti ofereceu o dossiê à IstoÉ. O duo Gedimar Pereira Passos/Valdebran Carlos Padilha, preso num hotel em São Paulo, com a mala dos R$ 1,7 milhão, tem muito a contar. Convém não esquecer de convidar Expedito Afonso Veloso, diretor de Gestão e Risco do Banco do Brasil, voluntário para os acertos com Luiz Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, na compra do dossiê. Além de outros, não esquecer Hamilton Lacerda, coordenador da campanha do companheiro Aloízio Mercadante, malogrado candidato do PT ao governo de São Paulo, emissário junto à mesma revista para cavar a publicação da muamba.
Entrevista:O Estado inteligente
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