A Vale e as viúvas
Jornal do Brasil (25/09/06)
Da Redação
A insensatez não é um mal que ataca apenas governos e países, embora nesses casos suas conseqüências sejam as mais desastrosas. Ela também afeta o raciocínio elementar de algumas pessoas. Nem por isso, entretanto, deixa de ser menos perigosa.
No caso da privatização da Vale do Rio Doce - para não irmos mais além no exame de muitas outras - os fatos e números têm sido de tal modo consagradores em favor da decisão de FHC de haver transferido seu controle acionário, através de leilão público, para o capital privado, que somente um escandaloso acesso de insensatez explicaria a renitência com que alguns ainda criticam essa que foi uma das mais luminosas e felizes medidas adotadas pelo ex-presidente.
Só para começar, vale lembrar que, em 1997, quando a Vale foi privatizada, seu valor de mercado estava ao redor de US$ 10 bilhões. Agora, menos de dez anos passados, a companhia exibe um valor que oscila em torno de US$ 55 bilhões. Caso consuma a compra da canadense Inco - o que esperamos - essa cifra poderá chegar de imediato a US$ 70 bilhões e a Vale será então a segunda maior mineradora global do planeta.
A mais utópica, fantasista e delirante viúva do estatismo jamais poderia imaginar que a outrora estatal poderia alcançar um dia os píncaros da jornada que a Vale, privatizada, vem empreendendo numa velocidade verdadeiramente ciclópica. De fato, somente a cegueira ideológica e a miopia política incurável seriam capazes de explicar tamanha dose de insensatez revestida de pretensa defesa dos interesses do povo.
Em mais de meio século de operação sob controle do Estado, a Vale mostrou-se predominantemente uma empresa orientada por uma gestão técnica, embora sempre sujeita a infiltrações políticas de que, a rigor, nenhuma empresa estatal está isenta. Recorrendo exclusivamente a seus próprios recursos, a Vale conseguiu montar um complexo de minas, ferrovias e portos que pode ser visto como admirável prova do espírito empreendedor de muitos dos administradores que por ela passaram na era pré-privatização.
O problema é que, para se tornar o gigante em que se converteu em menos de dez anos como companhia privatizada, a Vale teria de gastar décadas de esforço continuado, suprindo-se de seus exclusivos meios técnicos e financeiros. Mas a globalização certamente iria fechar-lhe boa parte dos negócios do mercado internacional. Foi precisamente por haver passado à gestão privada e rigorosamente profissional, que a empresa, em pouquíssimo tempo, agigantou-se de tal modo que hoje assombra o mundo com seu impetuoso processo de crescimento e diversificação.
Mas é estranho que as viúvas do estatismo "esqueçam" que o controle da Vale está em mãos, dentre outros, da Previ (o maior fundo de pensão do país) e do BNDES. Além do mais, do capital da empresa participam perto de 1 milhão de acionistas - em sua esmagadora maioria, trabalhadores que se utilizaram do FGTS para multiplicar por três ou quatro vezes seu investimento na empresa a partir de 2003. Que as viúvas perguntem a eles se estão arrependidos da decisão...
Outro "esquecimento" refere-se ao fato de que a Vale, além dos bilhões de dólares que produz com suas crescentes exportações e que contribuem fortemente para a balança cambial do país, é responsável por cerca de 120 mil empregos diretos e indiretos através de suas inúmeras frentes de trabalho espalhadas pelos Estados. Ela é a maior empregadora do país.
Como certamente diria o saudoso Bussunda: "Fala sério, cara...". Pois é o caso de dizermos às viúvas do estatismo: "Falem sério, caras...". Querer anular o leilão que privatizou a Vale é o mesmo que voltar ao tempo do Ford bigode (lembram?) em vez de usar um carro orientado por computador e posto a serviço de qualquer consumidor. Enfim, gosto não se discute, desde que não emperre o desenvolvimento do país, cuja alavanca é, indiscutivelmente, o espírito empreendedor do setor privado com a participação cada vez mais qualificada da mão-de-obra dos brasileiros.
A insensatez não é um mal que ataca apenas governos e países, embora nesses casos suas conseqüências sejam as mais desastrosas. Ela também afeta o raciocínio elementar de algumas pessoas. Nem por isso, entretanto, deixa de ser menos perigosa.
No caso da privatização da Vale do Rio Doce - para não irmos mais além no exame de muitas outras - os fatos e números têm sido de tal modo consagradores em favor da decisão de FHC de haver transferido seu controle acionário, através de leilão público, para o capital privado, que somente um escandaloso acesso de insensatez explicaria a renitência com que alguns ainda criticam essa que foi uma das mais luminosas e felizes medidas adotadas pelo ex-presidente.
Só para começar, vale lembrar que, em 1997, quando a Vale foi privatizada, seu valor de mercado estava ao redor de US$ 10 bilhões. Agora, menos de dez anos passados, a companhia exibe um valor que oscila em torno de US$ 55 bilhões. Caso consuma a compra da canadense Inco - o que esperamos - essa cifra poderá chegar de imediato a US$ 70 bilhões e a Vale será então a segunda maior mineradora global do planeta.
A mais utópica, fantasista e delirante viúva do estatismo jamais poderia imaginar que a outrora estatal poderia alcançar um dia os píncaros da jornada que a Vale, privatizada, vem empreendendo numa velocidade verdadeiramente ciclópica. De fato, somente a cegueira ideológica e a miopia política incurável seriam capazes de explicar tamanha dose de insensatez revestida de pretensa defesa dos interesses do povo.
Em mais de meio século de operação sob controle do Estado, a Vale mostrou-se predominantemente uma empresa orientada por uma gestão técnica, embora sempre sujeita a infiltrações políticas de que, a rigor, nenhuma empresa estatal está isenta. Recorrendo exclusivamente a seus próprios recursos, a Vale conseguiu montar um complexo de minas, ferrovias e portos que pode ser visto como admirável prova do espírito empreendedor de muitos dos administradores que por ela passaram na era pré-privatização.
O problema é que, para se tornar o gigante em que se converteu em menos de dez anos como companhia privatizada, a Vale teria de gastar décadas de esforço continuado, suprindo-se de seus exclusivos meios técnicos e financeiros. Mas a globalização certamente iria fechar-lhe boa parte dos negócios do mercado internacional. Foi precisamente por haver passado à gestão privada e rigorosamente profissional, que a empresa, em pouquíssimo tempo, agigantou-se de tal modo que hoje assombra o mundo com seu impetuoso processo de crescimento e diversificação.
Mas é estranho que as viúvas do estatismo "esqueçam" que o controle da Vale está em mãos, dentre outros, da Previ (o maior fundo de pensão do país) e do BNDES. Além do mais, do capital da empresa participam perto de 1 milhão de acionistas - em sua esmagadora maioria, trabalhadores que se utilizaram do FGTS para multiplicar por três ou quatro vezes seu investimento na empresa a partir de 2003. Que as viúvas perguntem a eles se estão arrependidos da decisão...
Outro "esquecimento" refere-se ao fato de que a Vale, além dos bilhões de dólares que produz com suas crescentes exportações e que contribuem fortemente para a balança cambial do país, é responsável por cerca de 120 mil empregos diretos e indiretos através de suas inúmeras frentes de trabalho espalhadas pelos Estados. Ela é a maior empregadora do país.
Como certamente diria o saudoso Bussunda: "Fala sério, cara...". Pois é o caso de dizermos às viúvas do estatismo: "Falem sério, caras...". Querer anular o leilão que privatizou a Vale é o mesmo que voltar ao tempo do Ford bigode (lembram?) em vez de usar um carro orientado por computador e posto a serviço de qualquer consumidor. Enfim, gosto não se discute, desde que não emperre o desenvolvimento do país, cuja alavanca é, indiscutivelmente, o espírito empreendedor do setor privado com a participação cada vez mais qualificada da mão-de-obra dos brasileiros.