Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 11, 2006

Luiz Garcia - Olhar sobre Cuba

O Globo
11/8/2006

Adecadência física de Fidel Castro não é recente. Em 2001, desmaiou, vítima do calor, durante um de seus intermináveis discursos. Três anos depois, também depois de falar horas a fio, tropeçou, caiu e fraturou joelho e braço. Antes da recente operação, andava com dificuldade, tinha momentos de incoerência e perda de memória, às vezes adormecia em público. Estava obcecado pelo medo de que o regime não sobreviveria depois dele.

Num discurso em novembro passado, afirmou que os Estados Unidos não poderiam destruir a revolução, “mas ela pode destruir a si mesma”.

Quem conta isso, em número recente da revista “The New Yorker”, é o jornalista Jon Lee Anderson, veterano visitante de Cuba, com contatos nos dois lados do muro ideológico.

Vale a pena registrar suas observações. Sobre a sucessão, por exemplo: segundo Anderson, Fidel não tem a menor dúvida de que a Assembléia Nacional confirmará sua escolha do irmão Raúl. Mas o que se diz em Havana é que provavelmente Raúl, que tem 75 anos, dividirá o poder com um triunvirato: o ministro do Exterior, Felipe Pérez Roque; o presidente da Assembléia, Ricardo Alarcón; e Carlos Lage, que comanda a política econômica.

São fiéis fidelistas, mas parece óbvio que Cuba sem Fidel será um país diferente. É revelador o depoimento de uma veterana seguidora do líder: “Quando vejo Fidel discursando, é como se estivesse vendo meu bisavô, falando sem parar e sem nenhum motivo especial. Ele não tem mais nada a dizer... O povo ainda o respeita, mas não o ouve. Seus sucessores terão de abrir o sistema: não são estúpidos. O povo não agüenta mais.”

Mas, para Anderson, se Raúl assumir o poder, ninguém deve contar com políticas moderadas: ele pode ser impulsivo, dogmático, às vezes brutal.

Bem diferente, a propósito, de sua filha, a sexóloga Mariela Castro Espín. Ela é responsável pela mudança da atitude oficial em relação a homossexuais e travestis. Antes perseguidos, hoje são oficialmente aceitos — ou seja, pelo menos não apanham mais da polícia. Mas é fenômeno raro, um dos poucos sinais de abrandamento do regime.

Em maio passado, Fidel lançou o programa que batizou de Batalha das Idéias, comandado pela União da Juventude Comunista. Trata-se, diz Anderson, de versão cubana, um tanto menos radical, da Revolução Cultural chinesa. Um comando central organiza demonstrações e recruta batalhões de “trabalhadores sociais” para forçar adesão popular a iniciativas oficiais.

A Batalha das Idéias visa a reengajar o povo na defesa dos ideais da revolução. Pelo que se percebe das informações e análises de Jon Lee Anderson, ela corre sério risco de ser sepultada no túmulo de Fidel. 

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