O Globo |
24/8/2006 |
O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, lança hoje um ambicioso projeto de longo prazo para a economia brasileira na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), que será o ponto de partida para uma proposta de união nacional que começará a ser esboçada no seu discurso de apresentação, na presença do próprio presidente Lula. Quando esteve no Rio, na segunda-feira, para a reunião com intelectuais, o presidente Lula declarou-se, em conversa telefônica comigo, "muito confiante" com a situação brasileira no longo prazo. Ele disse que teríamos condições sustentáveis de crescimento "nos próximos dez anos, se não fizermos nenhuma maluquice", e se referiu a diversas reuniões que teria nos próximos dias com empresários para definir projetos de longo prazo. O projeto, que se baseia nas reuniões do conselho nos últimos anos, com o apoio da Fundação Getúlio Vargas, faz um planejamento para os próximos anos, dividido em períodos de quatro, oito e 12 anos, não por acaso os próximos mandatos presidenciais. Prevê um crescimento econômico médio de 6% a partir de 2008 e uma redução da taxa de juros até 3% em 2010. A meta de superávit primário continuará sendo de 4,25% do PIB. Mantendo-se esses parâmetros, calcula o plano, a relação dívida/PIB, hoje da ordem de 50%, chegaria em 2010 a 39%. Como o CDES é formado por representantes de diversos setores da sociedade, esse documento não está sendo considerado "do governo", mas da sociedade, com demandas dos diversos setores e algumas metas consensuais, como a reforma política que aparece como prioritária. A discussão em torno do documento deverá ser estimulada até o fim do ano, para que o próximo governo já tenha um projeto que possa ser apoiado por uma "concertação partidária", única maneira de viabilizá-lo. O ministro Tarso Genro sabe que esse projeto tem que ter "uma enorme amplitude social e política" para se concretizar. Não é à toa que Tarso Genro usará a palavra "concertação" diversas vezes ao apresentar o plano. A visão da experiência chilena está no centro desse conceito, mas Tarso ressalta também a experiência portuguesa e, sobretudo, a espanhola, que, na visão dele, nos 20 anos que se seguiram aos acordos políticos, os diversos partidos que se revezaram no governo concordaram com alguns pontos-chave que permitiram o grande desenvolvimento do país. O ministro Tarso Genro está convencido de que amplos setores do PSDB concordarão com as bases das propostas a serem apresentadas, mas esclarece que não conversou oficialmente com o principal partido da oposição. Ele acredita que a campanha eleitoral não impedirá um entendimento político em torno de algumas metas, mas ressalta que esse projeto nem é definitivo nem pode ser confundido com a campanha eleitoral. A cada pesquisa eleitoral que é divulgada, mais notícias ruins surgem para a campanha do candidato tucano Geraldo Alckmin, e todas as teorias dos marqueteiros oposicionistas vão por água abaixo. Quanto mais conhecido dos eleitores, mais sobe a taxa de rejeição do "Geraldo". A mais recente pesquisa Datafolha mostra Alckmin empatado com Lula na taxa de rejeição, que já foi 12 pontos percentuais menor que a do presidente. De junho para cá, a rejeição a Lula diminuiu e a de Alckmin aumentou, especialmente depois da propaganda gratuita pela televisão. Outra tese que caiu por terra, defendida principalmente pelo prefeito do Rio, Cesar Maia, dizia que não era possível Lula ter mais intenções de voto do que a média de avaliação ótimo + bom de seu governo, que variava na faixa de 40%, enquanto a taxa de intenções de voto chegava na última pesquisa a 47%. Pois a pesquisa Datafolha mostra uma avaliação de ótimo + bom do governo Lula na casa de 52%, enquanto as intenções de voto subiram para 49%, o que quer dizer, pela tese de Cesar Maia, que Lula tem ainda espaço para crescer. Como em tempo de campanha todo mundo dá palpites, são muitas as pressões políticas para que Alckmin parta para uma campanha agressiva, como única maneira de enfrentar Lula. Mas o que pensam os especialistas? Hiram Pessoa de Mello, que foi marqueteiro em mais de 20 campanhas em vários países - Paraguai, México, Argentina, Bolívia, Venezuela, Portugal -, diz que a única saída para Alckmin é "demonizar Lula - para que seja visto como o 'mal maior' - o que é difícil - e, paralelamente, trabalhar para instalar o contraponto positivo". Pessoa de Mello considera a estratégia tucana de fazer a campanha negativa pelo "contraste propositivo" "sofisticada e de altíssimo risco, que pode até funcionar para os eleitores suecos. Não há tempo nem capacidade de discernimento do eleitor do Nordeste". Já o especialista em propaganda política José Guilherme de Oliveira (e não Jorge Guilherme, como escrevi outro dia) tem duas hipóteses para explicar por que as classes D e E não embarcaram na desestabilização de Lula: o eleitorado formado por gente mais simples, de menor senso crítico, não "prestou atenção" no amplo noticiário sobre o mensalão. "Essa hipótese é a mais favorável a Alckmin e provavelmente vem sendo cultivada com zelo pelos marqueteiros liderados por Luiz González", comenta Oliveira. A outra hipótese: "O eleitorado D e E prestou atenção, compreendeu tudo direitinho, mas não está nem aí. Pragmático e desiludido, o eleitorado fez que não entendeu e colocou a questão ética em segundo plano". "O programa de Alckmin vai trazer de volta o noticiário negativo sobre o PT (com todos os aspectos desfavoráveis a Lula), mas, num primeiro momento, sem vincular diretamente Alckmin a uma atitude mais agressiva. Se essa estratégia der resultado e os índices de Alckmin subirem, ficará provado que o eleitorado cativo de Lula realmente não havia prestado a devida atenção na novela do mensalão". |
Entrevista:O Estado inteligente
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