Editorial |
O Estado de S. Paulo |
22/8/2006 |
P rimeiro, Lula invocou o dever de preservar a integridade da função presidencial para não se expor ao confronto direto com os adversários nas sabatinas previstas pelas principais redes de televisão. Depois, mandou às favas as aparências, ao dizer que só irá a debates "quando (lhe) interessar" - completando, no melhor estilo autocrático, "não posso ir só porque outros acham que devo", como se o eleitor não tivesse a mais remota importância. Por fim, o mesmo presidente da República aparentemente preocupado em zelar pela dignidade do cargo permitiu-se, domingo, praticar uma grosseria sem precedentes nesta campanha. Num comício em Osasco - reduto do companheiro-mensaleiro João Paulo Cunha, o ex-presidente da Câmara absolvido na Pizzaria Plenário, de quem um esperto Lula tratou de manter profilática distância -, ele desceu aos porões da retórica. Acusou o seu principal contendor de 2002 e atual candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, sem citá-lo nominalmente, de "vomitar preconceito contra o povo nordestino que tanto ajudou a construir esse país e essa cidade". Eis um golpe baixo que junta injúria e calúnia. Em entrevista à Rede Globo, na semana passada, o ex-prefeito considerou o fluxo migratório para o Estado um dos fatores responsáveis pela queda da qualidade do ensino local. "São Paulo tem muita migração. Muita gente que continua chegando, esse é um problema", avaliou Serra. Pode-se concordar ou discordar da explicação, mas o fato é que ele não falou em nordestinos - e muito menos contra a migração de nordestinos. Ainda assim, o candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes, Aloizio Mercadante, tratou de espalhar a inverdade de que o filho de imigrantes José Serra era antinordestino. Pelo menos se conteve no limite do tolerável, evitando o verbo que Lula utilizou como se estivesse num bate-boca de botequim. O jeito lulista de falar é fartamente conhecido de todos quantos conversam com ele em privado. Certa vez, sem se dar conta de que outros o ouviam, comentou que Pelotas "é um pólo exportador de veados". No comício de Osasco, Lula ainda se sentiu à vontade para desafiar a oposição no plano da compostura. "Podem provocar, podem baixar o nível da campanha o quanto quiserem", desdenhou, como se ele tivesse aversão a isso. Mas o palanqueiro, que veste metaforicamente a faixa presidencial quando lhe interessa e dela se despe quando lhe convém, não é um impulsivo. É claro que ele inventou o preconceito de Serra contra os nordestinos não apenas para dar uma força a Mercadante, mas principalmente para se exibir, ainda uma vez, como o defensor, disposto a tudo, do segmento do eleitorado brasileiro que nele tende a votar maciçamente. O que a canelada de Lula talvez tenha de pior é que poderá servir de senha para o rebaixamento geral do padrão da campanha - o que não é tão difícil assim, se se levar também em conta o pendor da candidata Heloísa Helena para a incontinência verbal. Decerto a agressão do presidente leva água para o moinho de aliados do tucano Geraldo Alckmin, como o senador Antonio Carlos Magalhães, para quem o candidato "ou bate, ou tira logo esse programa do ar", alheio ao modo de ser do candidato, que desde a primeira hora repete que falar mal dos outros não torna ninguém melhor. Claro que há amplo espaço para explorar a vulnerabilidade de Lula em matéria de ética, sem descambar para o insulto - e sem mentir. Foi o que fez Alckmin anteontem em São Paulo, ao avivar a memória do eleitorado para as indigestas companhias do presidente. "O candidato deu as costas para o povo brasileiro, para a Justiça e os bons costumes", criticou o tucano. "Trabalhou do lado do Waldomiro, do mensalão, dos sanguessugas, do valerioduto." Ele há de saber que nada desgosta mais o público do que o bate-boca entre os políticos. Seja qual for a sua extração social, o eleitor tende a considerar que, ao brigar entre si, em vez de falar do que lhe interessa e apresentar propostas inteligíveis, os candidatos o excluem do debate público - e logo dá as costas ao xingatório. O problema do nível de campanha não é, pois, de boas maneiras. O que conta - se não nos comícios, de audiência arregimentada e cada vez mais restrita, decerto no horário de propaganda - é a forma como o eleitor se sente tratado. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, agosto 22, 2006
A baixaria do presidente
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