Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 30, 2006

Necropsia da campanha (Por Lucia Hippolito)

Necropsia da campanha (Por Lucia Hippolito)

Assistindo à propaganda dos dois principais candidatos à presidência, é possível encontrar várias coincidências.

No Brasil de Lula, tal como visto na TV, não existe corrupção, não existe mensalão, não existe crise moral.

No Brasil de Lula, o partido do presidente não se envolveu em grossa roubalheira, seus principais companheiros não foram indiciados pelo procurador-geral da República como membros da “sofisticada organização criminosa” que queria tomar de assalto o Estado brasileiro e ali se perpetuar.

No Brasil de Lula, o principal ministro do governo não foi cassado por corrupção nem indiciado pelo procurador-geral como chefe da tal “sofisticada organização criminosa”.

No Brasil de Lula, o segundo ministro mais importante não foi demitido por ter usado a mão pesada do Estado para violar o sigilo bancário de um cidadão indefeso.

No Brasil de Lula, a responsabilidade pela mais profunda crise moral que o país já viveu é de um tal sistema político. É ele o culpado de tudo.

(Já repararam que, quanto mais afundado no mensalão, mais o cidadão brada aos céus por uma reforma política profunda?! São inesquecíveis os depoimentos de Delúbio Soares, Silvio Pereira e José Dirceu na CPI dos Correios e de João Paulo Cunha no Conselho de Ética da Câmara.)

Tenho dito e repetido, e não custa repetir uma vez mais: reforma política não transforma cafajestes em cavalheiros. É um pouco mais sutil do que isto.

Mas vamos em frente.

O mais extraordinário, o mais surpreendente e, por que não dizer, o mais inusitado, é que no Brasil de Alckmin também nada disso existe.

O programa do PSDB, principal partido de oposição, optou deliberadamente por uma estratégia totalmente equivocada, que apenas legitima o Brasil de Lula.

É isto mesmo: os tucanos também acham que o mensalão foi uma miragem. Invenção da imprensa, falta do que fazer.

Desde que eclodiu a crise do mensalão, os tucanos se torturam em dúvidas hamletianas sobre atacar ou não o presidente Lula. Como não sabem fazer oposição, não despiram os punhos de renda e não quiseram fazer o “jogo sujo”.

Os tucanos deixaram que a imprensa fizesse esse papel.

Investigar, descobrir fatos, correr atrás de denúncias. Tucanos e até mesmo pefelistas apenas caminharam a reboque dos escândalos, aguardando que todo o trabalho da imprensa resultasse num Lula em frangalhos, humilhado e derrotado – e a presidência da República cairia em colo tucano por gravidade, sem que suas Excelências tivessem que se coçar.

Bem feito! Lula passou uns tempos como “pato manco”. Mas como tem carisma, uma caneta cheia de tinta e o Diário Oficial, recuperou-se, estufou o peito – e caminha a passos largos para mais quatro anos de mandato.

Já escolhe ministério, propõe Constituinte, conversa com empresários, olha para frente.

E os tucanos, será que vão aprender alguma coisa com os tremendos erros que vêm cometendo, todo santo dia? Tendo em vista o histórico do partido, é difícil dizer.

Afinal, não é Lula quem tem que descer do salto. Lula não desce é do palanque, e isto há mais de 15 anos.

Quem precisa descer do salto é o PSDB.

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