JB
Basta comparar o clima de esfuziante euforia que incendeia o acampamento da candidatura do presidente Lula, com adesões em massa e a virada na onda da ressaca do oportunismo, com o desânimo de velório de pobre, da oposição, para constatar que, salvo milagre ou mandinga de baiano batizado na Igreja do Bonfim, a eleição está decidida, provavelmente no primeiro turno, em 1° de outubro: Lula será reeleito para o segundo mandato: o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, perde sem chegar a entrar na briga.
Ainda é cedo para o amargo balanço dos erros em cascata dos prováveis derrotados e dos acertos do vitorioso.
Lula não fez mais que repetir a receita da vitória, depois do aprendizado em três derrotas. E a oposição não tem muita coisa a lamentar: ela foi arrastada, semi-inconsciente, para a única candidatura possível, praticamente imposta pelo poderoso esquema paulista e com o xeque-mate do prévio acordo para o lançamento do renunciante prefeito da capital, José Serra, para o governo estadual, vago com a renúncia de Geraldo Alckmin.
No mais, ninguém foi enganado. Apenas o estilo do correto e educado candidato, que passou no teste da eleição paulista, em circunstâncias inteiramente diferentes, não agüentou o tranco na capoeira em campo aberto contra Lula, um especialista no vale-tudo.
A oposição começou a pavimentar a rota do infortúnio eleitoral quando não aproveitou a hora para exigir do governo o cumprimento da promessa da reforma política para enterrar nos cafundós do inferno a praga da reeleição. A pressão dos interessados, que junta todos os prefeitos, governadores e o presidente é irresistível. Desfralda o argumento ponderável de que os eleitos estão sacramentados pelo direito adquirido de desfrutar do bis do sonho dourado do poder.
A reeleição coloca o privilegiado no meio do caminho. Dispondo de quatro anos para arrumar a cama em que continuará ressonando, distribui vantagens, benefícios, fecha alianças, isola o adversário no canto e badala seus sucessos com a máquina administrativa a seu serviço em tempo integral. Com potência demolidora durante a campanha sem se afastar do exercício do cargo.
Com a desabrida violência do seu estilo demolidor de maior orador parlamentar da sua época, o deputado Carlos Lacerda esbravejava da tribuna contra a passividade dos companheiros da UDN, silenciosos diante do desembaraço do presidente Juscelino Kubitschek.
Do microfone do plenário, o discreto deputado mineiro Guilherme Machado, encaixou o aparte de justificativa maliciosa:
- Nós fazemos a oposição construtiva.
Rebate fulminante:
- O deputado não faz oposição destrutiva nem construtiva. Não faz oposição nenhuma.
O candidato Geraldo Alckmin não faz oposição nenhuma. Resiste à pressão para bater firme nos erros, omissões, escândalos do governo Lula. Não é do seu temperamento cair na baixaria. E depois, pode ser tarde para virar milhões de votos que sobram nas pesquisas e na evidência da barafunda das críticas, cobranças e das defecções no salve-se-quem-puder do cheiro de derrota.
Entrevista:O Estado inteligente
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