Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 25, 2006

Luiz Garcia - Alegria escassa




O Globo
25/8/2006

O ano é eleitoral também nos Estados Unidos. Lá, são eleições parlamentares, que vão confirmar ou retirar a maioria do partido do presidente George Bush no Congresso. Em qualquer hipótese, será um julgamento popular de seu governo - com a política externa, principalmente no que se refere ao Oriente Médio, pesando na balança tanto ou mais que a economia.

O que mais se discute é a lenta e até hoje pouco produtiva ocupação do Iraque. Parece que está minguando o apoio popular à operação militar, que tem alto custo, em dinheiro e vidas (3.438 mortes no país só em julho).

Não por acaso, um número cada dia um pouco maior de congressistas republicanos tem se juntado aos democratas que pedem à Casa Branca a fixação de um prazo para a permanência dos soldados americanos no país. Na mídia, muitos que aplaudiram a invasão hoje criticam a estratégia política e militar de Bush. Diversos candidatos do Partido Republicano, registrou outro dia o "Washington Post", têm evitado aparecer em público ao lado do presidente.

Ele não ignora totalmente a mudança do vento na opinião pública. É significativo que seu apoio à intervenção da ONU na crise do Líbano seja apenas logístico, mesmo em face da relutância dos países europeus em contribuir com tropas suficientes para manter o armistício entre Israel e o Hezbollah.

Numa longa entrevista coletiva na semana passada, Bush defendeu com ênfase os esforços para implantar no país árabe, queiram os iraquianos ou não, uma democracia de modelo ocidental. O absoluto ineditismo da tentativa não parece abalá-lo. Disse, por exemplo: "Sabem, estamos tendo um debate interessante sobre como cuidar do Iraque. Muita gente - pessoas boas e decentes - fala em 'retirada agora'... Seria um erro tremendo para nós."

Coerentemente, ele não admitiu na entrevista desapontamento com a falta de progresso no programa iraquiano. Com discreta exceção: "Frustrado? Às vezes sinto-me frustrado, raramente surpreso. E, às vezes, sinto-me contente - mas uma guerra não é tempo de alegria. Estes não são dias alegres."

Como votam os eleitores em tempos de escassa alegria? Não é certo que Bush esteja a caminho de perder a maioria no Congresso, numa hecatombe eleitoral poucas vezes vista na história política dos EUA. Mas há alguma base para a esperança de que a política de exportação a ferro e fogo do modelo político ocidental para países onde ele jamais prosperou seja discretamente arquivada. Pode até não demorar muito.

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