Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 31, 2006

A conta não fecha


EDITORIAL
O Globo
31/8/2006

O documento apresentado pelo PT com as diretrizes de um eventual segundo governo Lula não escapa à síndrome da onipotência, muito comum aos textos desse tipo divulgados em campanhas eleitorais. O mundo visto pelas lentes desses documentos encharcados de ideologia, mas disfarçados de exercícios acadêmicos, é um mundo previsível, sob controle e prestes a distribuir bondades sem qualquer custo ----, a não ser o de ir às urnas e votar no candidato certo.

O próprio presidente-candidato, ao separar o que são as "bravatas" oposicionistas dos imperativos do mais importante cargo executivo da República, já demonstrou saber que na vida real não é bem assim. Isso não impediu que o PT listasse um rosário de intenções - nem todas boas -, cuja execução se assemelha a um cavalo que parte a galope em todas as direções. Em 30 páginas, o partido, com os aliados PCdoB e PRB, expõe um projeto de governo que não fica de pé, por desafiar leis como a da gravidade. Quer o PT, ao mesmo tempo, expandir os gastos públicos, e por diversas formas - pelo custeio (salário mínimo, Bolsa Família etc.) e pelos investimentos -, reduzir a carga tributária e ainda cortar os juros. Assim como a adversária Heloísa Helena, os petistas confiam na redução da taxa básica do Banco Central (Selic) como fonte de financiamento da multiplicação milagrosa dos gastos.

Impossível, pois, como os juros não obedecem a ordens de qualquer burocracia, o resultado da expansão dos gastos será a manutenção das taxas em níveis altos. É isso ou a volta com força da inflação, além do risco de fuga de divisas.

No plano político, o programa parece investir contra a cláusula de barreira quando propõe "(...) assegurar a pluralidade de partidos". Mas, ao mesmo tempo, defende a "( ...) construção de maiorias necessárias à governabilidade". Se de fato for intenção do PT trabalhar para reduzir a cláusula de barreira, o partido terá produzido outra incongruência. Afinal, "maiorias necessárias à governabilidade" não rimam com pulverização partidária.

PT e Lula têm protagonizado uma crônica de desencontros. Pode ser que este seja mais um, e o programa venha a ter a importância num segundo mandato proporcional ao tamanho com que a estrela do partido aparece na campanha da reeleição.

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