O Globo |
31/8/2006 |
Para quem está a ponto de perder no primeiro turno, o candidato tucano Geraldo Alckmin demonstra uma estranha fé na capacidade de alterar o quadro e chegar ao segundo turno contra Lula, o que seria um resultado que, por si só, já mudaria o panorama da corrida presidencial. Para um candidato que, como Lula, age como vencedor e já escolhe os ministros para o segundo mandato, seria um baque, até mesmo psicológico, ter que disputar um segundo turno. A certeza de Alckmin está baseada no ambiente das ruas, que já está mudando, disse ele ontem, na entrevista do GLOBO, mas também, e sobretudo, em um aparato tecnológico de pesquisas que indica que ele hoje está mais próximo dos 30% das intenções de voto do que dos 27% apontados no último Datafolha. Pela análise da equipe de campanha, se Alckmin atingir 32%, haverá segundo turno, desde que Heloísa Helena se mantenha na faixa de 10% em que está. O perigo é que ela desabe daqui para a frente. No acompanhamento de pesquisas, Lula teria hoje perto de 45% das intenções de voto, e não 51%, como apontado pelo Datafolha. A explicação para essa diferença seria que o espalhamento das suas pesquisas é menor que o da campanha de Alckmin, que faz pesquisas em 480 cidades em todo o país com duas mil entrevistas, enquanto o Datafolha faz entrevistas em 175 cidades, e o Ibope em cerca de 150. A coordenação da campanha de Alckmin tem um tracking (pesquisa telefônica) de mil entrevistas todo dia, saídas de uma amostra inteira de duas mil entrevistas que vão sendo substituídas. Considerado muito rápido pelos técnicos, o instrumento mede a tendência do eleitorado de um dia para o outro e detecta qualquer mudança de humor, muito mais do que as pesquisas eleitorais dos institutos, que demoram, entre fazer o campo de pesquisa e tabular, cerca de cinco dias. Há um outro tracking de três dias, e outro de quatro dias, para complementar as informações. Além disso, há pesquisas qualitativas em sete estados, sobre o programa de televisão, feitas por um sistema inglês de medição da reação do telespectador. A entrada do locutor no programa de terça-feira relembrando as acusações de corrupção contra o governo Lula "passou tranqüilo", na definição dos técnicos em comunicação da campanha de Alckmin, com um detalhe curioso: dos sete estados, só em São Paulo o locutor foi identificado com a campanha de Alckmin. Mesmo que, com o passar dos programas, esse tipo de intervenção volte a ser usado e identificado imediatamente com o tucano, não haverá problemas porque "a essência da crítica foi bem-recebida", está no limite da aceitação pelo eleitorado, o que é a grande preocupação dos coordenadores de comunicação da campanha. Apesar de ressaltarem que desde o primeiro programa Alckmin faz reparos ao governo Lula, seus comunicadores dosam os ataques para não ferir a suscetibilidade dos eleitores. Um exemplo define bem os cuidados: vou à sua casa pedir um favor (o seu voto), chego lá e começo a falar mal de uma pessoa de quem você gosta. A estratégia até o momento não mudará, como o próprio candidato revelou ontem. A intenção é criar a imagem do candidato junto ao eleitorado, e não simplesmente torná-lo conhecido. O objetivo é torná-lo conhecido pelas qualidades certas para levar o eleitor a mudar seu voto com segurança. Pelos cálculos de Alckmin, Lula hoje tem cerca de dez pontos percentuais que não são dele, são eleitores que estão com ele porque não conhecem o outro candidato, não têm certeza de que ele seja bom. A propaganda pretende criar no eleitor a idéia de que há uma alternativa, que não é arriscada. Convencê-lo, ao menos, de que os dois são bons, para depois, no segundo turno, marcar a diferença. Alckmin insiste em que a campanha ainda mal começou, e contou experiências suas e do ex-governador Mario Covas de virar campanhas eleitorais somente a poucos dias da eleição. Distorções das pesquisas eleitorais foram lembradas por Alckmin, como em 2002, em que, no dia da eleição, os institutos de pesquisa apontavam quase um empate triplo na disputa ao governo de São Paulo. Ao abrirem as urnas, deu 38% para Alckmin, 32% para José Genoino e 21% para Maluf. Pelos grupos qualitativos, há a certeza na campanha de Alckmin de que sua candidatura cresce, sendo mais bem avaliada em todos os sete estados nos últimos dias. Todos os atributos do tucano melhoraram, e ultrapassaram os de Lula, à exceção de dois. Hoje Alckmin já seria visto como o que tem mais capacidade para governar; o mais sincero; com mais condições de melhorar o sistema de saúde e de criar empregos. Lula ainda é visto como o candidato que tem mais visão dos problemas nacionais, e o que entende mais o problema dos pobres. Alckmin e seus marqueteiros esperam uma subida lenta, mas firme, que deverá ser detectada pelas pesquisas por volta do dia 15 de setembro. E especulam sobre qual será a reação de Lula no momento em que sua queda - que eles garantem já ser detectável - for apontada pelas pesquisas. Mas continuam apostando mesmo é nas urnas de 1º de outubro. Só lá saberemos com certeza se essas informações não passam de factóides, caracterizando o "estelionato eleitoral" de que falei ontem ou, ao contrário, retratam uma campanha de marketing tão competente que desbancou o que Alckmin classificou ontem de "uso descarado da máquina pública" em favor da reeleição do presidente Lula. |
Entrevista:O Estado inteligente
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