Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, agosto 23, 2006

Miriam Leitão Encolhendo 2007

O GLOBO
O PIB vai crescer menos este ano do que se esperava e vai crescer ainda menos no ano que vem. O economista José Roberto Mendonça de Barros está prevendo uma desaceleração do PIB no ano que vem em relação a este ano por fatores internos e internacionais. O mundo está entrando em uma fase de desaceleração puxado pela economia americana, que reduz o ritmo.

Nas últimas duas semanas, o mercado reviu para baixo a previsão do PIB do ano, segundo o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central. Nas próximas semanas, esta previsão vai continuar minguando.

Estava indo para 3,8% e agora está em 3,5%; e deve cair mais.

Mendonça de Barros prevê que, no ano que vem, o PIB vai crescer num ritmo ainda menor e enumera os motivos.

O primeiro deles é internacional.

Vários economistas no mundo inteiro têm divulgado previsões aumentando o percentual de risco de uma recessão nos Estados Unidos. Os mais otimistas acham que haverá apenas uma desaceleração do ritmo de crescimento.

Mas há quem preveja recessão.

— Na melhor hipótese, o ritmo da economia americana vai cair para uma taxa anualizada de 2,5% no fim do ano. Há quem preveja que, no começo do ano que vem, os Estados Unidos estarão crescendo a 1% de taxa anualizada, o que representará uma forte desaceleração — diz José Rober to.

A queda do ritmo de crescimento americano é dada como certa porque os juros aumentaram de 1% para 5,25% e, mesmo tendo parado de subir, o efeito do aperto monetário continuará.

Houve ainda uma redução do ritmo do mercado imobiliário e alta forte dos preços do petróleo. Tudo isso afetará o consumo americano.

A Europa também vai entrar em desaceleração, como mostram dados da Alemanha.

A Coréia está reduzindo seu crescimento; o Japão também. Só China e Índia continuam com forte crescimento.

— Isso reduzirá a contribuição do comércio exterior no ritmo de crescimento brasileiro — afirma.

Quando a economia americana consome menos, países exportadores procuram outros mercados para vender o excedente produzido.

José Roberto acha que isso pode trazer para o mercado brasileiro muito produto chinês de baixo preço que desorganize a produção local.

Com o fim das eleições — e pelo peso da gastança deste ano eleitoral —, o ano que vem será de redução do estímulo fiscal.

— Já está se falando em pacote fiscal no começo do ano e, provavelmente, o aumento do salário mínimo ou o reajuste dos funcionários será menor no ano que vem; tudo isso reduzirá o estímulo fiscal ao c re s c i m e n t o .

O investimento também deverá ser menor. Hoje ele está acontecendo principalmente em alguns setores; um deles, máquinas para produção de energia elétrica. Mas não é sust e n t á v e l .

— A produção de equipamentos para energia elétrica tende a cair porque as usinas que estão sendo instaladas agora, que representam 4.000 megawatts, foram contratadas antes do governo Lula. Leva-se de quatro a cinco anos para concluir uma hidrelétrica. Existem agora poucas para entrarem em operação no ano que vem e, depois, nada.

Vai cair bruscamente a produção de turbinas elétricas — conta.

Não houve também, nos últimos quatro anos, uma nova concessão de estradas e isso tudo ajuda a manter deprimido o investimento privado.

O consumo será menor, na previsão de José Roberto, exatamente pela queda do investimento e do estímulo fiscal. Os juros devem estar mais baixos, mas isso não vai alavancar o crédito em nível que compense os outros e f e i t o s .

A agricultura está tendo este ano uma redução de 4% na área plantada e está investindo menos, exceto por alguns setores que estão fortes, como açúcar e álcool.

Isso reduzirá também a contribuição da agricultura para o crescimento.

Existem nessa área outros fatos negativos.

— Perdemos a guerra para a Argentina no esmagamento de soja. Aqui ele só cai; na Argentina, só cresce.

Nós esmagamos 6 mil toneladas de soja por dia e eles, 20 mil toneladas. Nós temos problemas de ferrugem e eles não. Lá produzem praticamente no porto e nós em locais de longa distância. E o câmbio deles está a três.

Este ano, apesar da queda do câmbio, o Brasil está exportando mais. Segundo José Roberto Mendonça de Barros, o que mais pesa é o aumento da exportação de petróleo.

— O item petróleo e derivados saiu de 7,7% da pauta de exportação do ano passado para representar 9% de janeiro a julho deste ano, num comércio que está se expandindo. No ano, o item pode representar US$ 6 bilhões a mais de expor tação.

Os sinais da redução do crescimento começam a aparecer agora. O BNDES, por exemplo, teve que mudar suas regras, aumentando o capital, para emprestar mais para os grandes tomadores.

Sinal de falta de demanda por novos financiamentos.

No governo, como a ordem é tocar o bumbo eleitoral, várias autoridades nos últimos dias fizeram declarações garantindo que o país vai crescer 4% a 4,5% este ano e que este é o início de uma fase de crescimento sustentado.

Antes fosse, mas não é.

Fariam melhor os economistas do governo se, em vez de fazer coro aos entusiasmos de ocasião, analisassem objetivamente formas de reverter as tendências de queda do crescimento, já magro, do Brasil.

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