Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, agosto 24, 2006

A mais antiga profissão do mundo

BLOG REINALDO AZEVEDO

A mais antiga profissão do mundo

Há tempos não lia um relato tão asqueroso quanto o que fazem Leandro Berguoci e Débora Yuri na Folha desta quinta sobre as opiniões de alguns “artistas” que estiveram, na segunda, na casa de Gilberto Gil, no encontro com o presidente Lula. Wagner Tiso, cuja profissão é ser amigo aposentado do Milton Nascimento, diz que não está preocupado com a ética. Paulo Betti, supostamente citando Sartre — imaginem! — disse que "não dá para fazer política sem meter a mão na merda”, sem sujar as mãos. É uma referência, que ele só conhece de ouvir falar, pelo visto, à peça As Mãos Sujas, de Sartre, da sua fase pré-gagá-stalinista. Na verdade, trata-se de um libelo anti-stalinista, que faz justamente uma crítica feroz à idéia de que é preciso sujar as mãos, o exato oposto do que diz este atorzinho em sua delinqüência intelectual. Alguns discordaram, disseram que não é bem assim. José de Abreu, por exemplo, disse que “é difícil não meter a mão na merda, mas que é preciso tentar ter mãos beatas”. Foi ele quem, na segunda, pediu uma salva de palmas a José Mentor, José Dirceu e José Genoino. Terá sido com as mãos beatas ou com as outras? Augusto Boal, que acaba de receber uma pensão vitalícia como homem perseguido pela ditadura (Santo Deus!), não entrou no mérito. Disse que a ética não está sendo bem usada na campanha. Oh, claro que não. E Luiz Carlos Barreto, o preferido da Petrobras, disse que mensalão não é roubo. Roubo é sanguessuga. Para estes, ele defende “fuzilamento”. Barretão não suporta ladrão pé-de-chinelo. Alguns dos nossos artistas precisam voltar a tirar aquela carteirinha que antes se exigia das atrizes, provando que não tinham doenças venéreas. Sem querer ofender as atrizes do passado nem as putas, é claro.

FOLHA
Descaso pela ética provoca atrito entre artistas lulistas

Paulo Betti diz que política se faz com mãos sujas, mas José de Abreu pede "mãos beatas"

Augusto Boal discorda do uso do termo "ética" na política e diz que tema só entra em discussão para provocar ataques eleitorais


LEANDRO BEGUOCI
DÉBORA YURI
DA REPORTAGEM LOCAL

O rescaldo do encontro no Rio entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e artistas e intelectuais na casa do ministro Gilberto Gil, na segunda-feira, provocou polêmica: as declarações do compositor Wagner Tiso e do ator Paulo Betti ao jornal "O Globo" foram condenadas por alguns dos presentes porque tanto Tiso quanto Betti disseram não se importar com os escândalos de corrupção ocorridos no governo.
"Não dá para fazer [política] sem botar a mão na merda", disse Betti. "Não estou preocupado com a ética do PT. Acho que o PT fez um jogo que tem que fazer para governar o país", completou Tiso. Procurado pela Folha, Betti sustentou seu discurso: "Não vamos ser hipócritas: eu acho que não dá pra fazer política sem sujar as mãos. Veja até agora, na história da humanidade", disse. "Acho que foi Jean-Paul Sartre quem disse, acho que numa peça, algo como "política é uma coisa em que você põe suas mãos e elas acabam sujas"."
O ator José de Abreu reprovou a atitude dos colegas. "Eu acho difícil fazer política sem colocar a mão na merda, mas acho que tem que tentar ter mãos beatas", disse ele, que pediu durante o encontro da segunda uma homenagem a José Dirceu, José Mentor e José Genoino, acusados de envolvimento com o mensalão.
Apesar de reprovar a atitude de Betti e Tiso, Abreu disse entendê-la. "Como é que você vai conversar com alguns deputados que só pensam em dinheiro? Aí você vai ter que colocar a mão na merda, é difícil", concluiu ele, que disse acreditar na existência do mensalão, a despeito da sua amizade com Dirceu. "Eu fico com o procurador-geral da República."
O ator Tonico Pereira foi mais um que condenou o desdém à ética. "Não achei legal o que eles disseram. Se você não pensar nisso como possibilidade, então é melhor desistir. Eu persigo a ética na política."
O dramaturgo Augusto Boal não reprovou nem endossou as declarações de Tiso e Betti. Para ele, o termo "ética" não está sendo bem usado na campanha eleitoral. "Quando alguém usa a palavra ética, não revela qual a sua ética. Usa apenas para atacar alguém."
O cineasta Luiz Carlos Barreto foi o único ouvido que concordou com Tiso e Betti. "A política é um terreno pantanoso, a ética é de conveniência. Se o fim é nobre, os fins justificam os meios", afirmou. "O que eu acho inaceitável é roubar. Eu acho que o mensalão é do jogo político, não é roubo. Dirceu e Genoino não roubaram." A única exceção aberta por Barreto é para a máfia dos sanguessugas. "Sanguessuga é roubo. Deveriam ser fuzilados."
Tiso foi procurado pela Folha, mas sua assessoria disse que ele estava indisponível.

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