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Com mais quatro anos de mandato a cumprir e a eleição para a Presidência República a disputar na condição de vice do candidato Cristovam Buarque, o senador Jefferson Peres (PDT-AM) anunciou há pouco em discurso no plenário do Senado que abandonará a vida pública com a reeleição iminente de Lula.
- Estamos aqui no faz-de-conta. Como disse o Ministro Marco Aurélio (presidente do Tribunal Superior Eleitoral), este é o país do faz-de-conta. Estamos fingindo que fazemos uma sessão do Senado, estamos em casa sem trabalhar. Estou em Manaus há quase um mês recebendo sem fazer nada para o Congresso Nacional.
- Como se ter animação em um país como este com um presidente que, até poucas semanas atrás, até poucos meses atrás, era sabidamente – como o é – um presidente conivente com um dos piores escândalos de corrupção que já aconteceu neste país e este presidente está marchando para ser eleito talvez em primeiro turno?
- É desinformação da população? Não, não é. Se fizermos uma enquete em qualquer lugar deste país, todos concordarão ou a grande maioria que o presidente sabia de tudo; então votam nele sabendo que ele sabia. A crise ética não é só da classe política, não, parece que ela atinge grande parte da sociedade brasileira.
- Ele vai voltar porque o povo quer que ele volte. A democracia é isso. Curvo-me à vontade popular, mas inconformado. Esta será uma das eleições mais decepcionantes da minha vida. É a declaração pública, solene, histórica do povo brasileiro de que desvios éticos por parte de governantes não têm mais importância
- (...) Vou continuar protestando sempre, cumprindo o meu dever. Isso não seria justificativa para dizer que não vou fazer mais nada. Vou cumprir rigorosamente o meu dever neste Senado até o último dia de mandato, mas para cá não quero mais voltar, não.
- Um país que tem um Congresso desse, que tem uma classe política dessa, que tem um povo. Senador Antonio Carlos Magalhães, dizem que político não deve falar mal do povo. Eu falo, eu falo. Parte da população que compactua com isso, é lamentável. E que sabe, não é por desinformação, não. E que não é só o povão, não, é parte da elite, inclusive intelectuais.
- Compactuam com isso é porque são iguais, se não piores. Vou continuar nessa vida pública? Para quê?, Senador Antonio Carlos Magalhães, que é um pouco mais velho do que eu e vai continuar ainda. Mas, para mim, chega.
O adeus de Jefferson Péres (II)
PSDB, PFL, PMDB e PT lamentaram a decisão de Jefferson Péres (PDT-AM) de abandonar a vida pública. Mas se ele esperava alguma demonstração de indignação coletiva, enganou-se. Os governistas não gostaram nadinha do que ele falou sobre reeleger Lula.
Cristovam Buarque (candidato à presidência)
- A que ponto chegou a política em que um homem da estatura do Jefferson Péres foi empurrado a isso. Eu entendo as razões dele. Vou dar alguns exemplos do porquê o Jefferson Péres fez um discurso como esse. Na semana passada estive em João Pessoa e um jornalista fez uma pesquisa na rua sobre em quem as pessoas iam votar. Um entrevistado disse que votaria em quem estivesse solto no dia das eleições. E teve gente que disse que ele estaria solto porque corrompeu o juiz. Depois, o pronunciamento desses artistas sobre a ética é uma das gotas d’água que levaram o senador a isso. E em terceiro: o fato de o presidente estar se colocando como eleito por antecipação. Existem formas de dar o golpe e uma delas é se anunciar vencedor antes das eleições.
Arthur Virgílio (PSDB)
- Vamos fazer de tudo para que ele não largue a vida pública. Eu entendo que não dá para culpar o povo. O povo responde ao seu processo político próprio. A gente faz política com alegria e tristeza. O povo é este, é o meu povo. O que posso fazer?
José Agripino (PFL)
- Tem dois pontos: eu lamento muito se ele insistir nessa tese porque é uma das melhores figuras do Senado. Ele está verbalizando a indignação dos homens de bem deste país. Quem sabe esse gesto venha a acordar a indignação nacional?
Ideli Salvatti (PT-SC)
O Cristovam Buarque (cabeça da chapa de Péres) vira e mexe fala algumas coisas sobre preocupação com uma tendência autoritária do governo, uma tendência chavista. Tem coisa mais autoritária do que não reconhecer a vontade da população? Ou os iluminados acham que têm a idéia mais adequada e límpida e que o povo não vale de nada?
Hélio Costa (ministro das Comunicações)
Ele é absolutamente imprescindível, é uma referência política, ética e moral e para nós é sempre a visão da seriedade. Eu espero que esse pronunciamento seja apenas um reflexo de uma candidatura que não emplacou. Mas não pode discutir uma candidatura vitoriosa do presidente Lula.