Editorial |
O Estado de S. Paulo |
28/8/2006 |
Talvez coubesse chamá-los de bobos da corte, pois na aparência fazem graça com o cinismo com que aprovam e até aplaudem a corrupção no partido do presidente Lula. Mas, na verdade, os artistas (com honrosas exceções de praxe) que compareceram à já famosa reunião na casa do ministro da Cultura, Gilberto Gil, para fazerem profissão de fé em seu desprezo convicto à ética na política - não só absolvendo as falcatruas petistas, mas chegando a enaltecer a prática do mensalão -, talvez de bobos não tenham nada. O desfrute real de alguns - e a expectativa de desfrute de outros - de verbas de estatais canalizadas para a Cultura, sob os auspícios do compadrio político, certamente explicará melhor os deprimentes disparates morais desferidos naquele recinto. Seria muito natural que artistas se reunissem na casa de um ministro - ele mesmo um dos melhores compositores da consagrada Música Popular Brasileira - para manifestar adesão à campanha reeleitoral do presidente Lula. Afinal de contas, poderiam encontrar razões para julgar necessária a continuidade da atual gestão da administração pública federal brasileira - por mais questionamentos que se lhe possam fazer, no campo artístico-cultural, como em tantos outros. Encontraram, no entanto, o mais cínico e irresponsável dos argumentos - se bem traduzido um insulto ao próprio presidente - para o apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. Ao contrário da hipocrisia dos políticos, que tentam disfarçar em virtudes suas próprias deformidades morais, o cinismo desses artistas consiste em confessar de antemão que eles são exatamente iguais àqueles políticos em termos de ausência de valores éticos, de princípios ou de escrúpulos, quando em jogo está o anseio pela obtenção de alguma vantagem. "A política é um terreno pantanoso, a ética é de conveniência. Se o fim é nobre, os fins justificam os meios", disse o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto - ao longo dos últimos anos um dos grandes beneficiários de patrocínios estatais - completando: "O que eu acho inaceitável é roubar. Eu acho que o mensalão é do jogo político, não é roubo." Já o ator Paulo Betti pontificou: "Não vamos ser hipócritas; eu acho que não dá para fazer política sem sujar as mãos." E o músico Wagner Tiso - a comprovar que a falta de princípios e escrúpulos é praga disseminada em variado gênero artístico caboclo - saiu-se com a afirmação lapidar: "Não estou preocupado com a ética do PT. Acho que o PT fez um jogo que tem que fazer para governar o País." Há que se observar, antes de tudo, que nenhum dos artistas e produtores culturais reunidos para manifestar apoio à reeleição do presidente Lula sequer colocou em dúvida tudo o que se tem denunciado sobre falcatruas e bandalheiras no meio político e administrativo brasileiro, notadamente o famigerado mensalão. Muitos deles, ao contrário, fizeram questão de justificar e defender a prática, o que não deve estar deixando em situação muito confortável o presidente e seus aliados, especialmente considerando que naquele encontro um dos artistas - o ator José de Abreu - chegou a pedir uma homenagem específica a José Dirceu, José Mentor e José Genoino, figuras que se tornaram paradigmáticas no megaescândalo do mensalão. Indaguemos agora. Se não dá para fazer política sem "sujar as mãos", dará para fazer Arte sujando a consciência? Muitos dos popularíssimos artistas brasileiros - notadamente os "globais", sempre sujeitos a intensa exposição pública, em razão da própria fama - são modelos de comportamento de uma sociedade em que a massificação da comunicação eletrônica chegou muito antes do desenvolvimento cultural. No terrível despencamento de valores morais a que nossa sociedade - em especial nossa juventude - assiste nos dias que correm, a complacência irresponsável em relação aos bandidos da vida pública, aos ladrões do erário e a todos quantos se apropriam criminosamente da res publica (coisa pública) é um péssimo incentivo à sem-vergonhice deslavada, vindo, justamente, dos que deveriam dar o melhor exemplo, pela admiração - nem sempre merecida, é verdade - que o povo lhes devota. Terão eles o direito de permanecer no conforto da "consciência apascentada", própria dos áulicos subsidiados? |
Entrevista:O Estado inteligente
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