Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, agosto 11, 2006

Clóvis Rossi - O valor da vida, cá e lá

Folha de S. Paulo
11/8/2006

É, em tese, muito mais difícil combater e prevenir atentados de redes terroristas, tipo Al Qaeda, do que os atos que o PCC pratica em São Paulo. Primeiro, porque a ação do PCC, ao menos até onde se sabe, está limitada ao Estado de São Paulo. A Al Qaeda (ou as diferentes franquias inspiradas por ela) atua no mundo todo. Segundo, porque os líderes do PCC, segundo as informações que a própria polícia deixa vazar, estão perfeitamente identificados e, ainda por cima, presos, na sua grande maioria. Da Al Qaeda, sabe-se que existe um certo Osama Bin Laden, que, a rigor, ninguém vê. Dos demais, surge aqui e ali um ou outro nome, mas nem mesmo os mais potentes serviços de inteligência sabem com precisão onde se encontram. Pior (para a segurança): os autores dos atentados mais espetaculares atribuídos à Al Qaeda ou às suas franquias morreram no ato (caso dos terroristas do World Trade Center ou dos ataques ao metrô de Londres). Portanto, não há como interrogá-los (ou torturá-los, que é o que se faz também, não vamos ser ingênuos) para extrair informações. No caso do PCC, ao contrário, só há mortos em movimentos posteriores, supostamente confrontos com a polícia, muitos dos quais fuzilados antes de serem interrogados (ou torturados). Antes, portanto, de dar alguma informação. Não obstante, a polícia britânica diz ter evitado uma série de atentados em aviões ("assassinatos em massa", segundo ela) e prendido 24 pessoas como suspeitas de planejar os ataques. Em São Paulo, não se evitou nadica de nada. Os conformistas dirão que, afinal de contas, o Reino Unido é riquíssimo e pode ter uma polícia eficiente. Os céticos ou realistas (a seu critério, leitor) dirão que a vida e a segurança da bugrada cá de baixo vale bem menos que a vida do pessoal lá de cima.

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