Entrevista:O Estado inteligente

sábado, agosto 19, 2006

CLÓVIS ROSSI O que interessa

FOLHA

SÃO PAULO - Estranho conceito republicano esse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de achar que vai aonde lhe interessa (no caso a debates). Homens públicos vão, sim, aos eventos que lhes interessam, mas devem ir também a eventos que interessam à sociedade. Dispenso-me de citar motivos pelos quais debates são de interesse público, porque o próprio Lula e, com ele, o PT já fizeram a lista completa em todas as oportunidades em que seus adversários fugiram desse dever. É bom lembrar que, na campanha eleitoral de 1994, o PT e Lula armaram um baita escândalo quando o então ministro da Fazenda, o embaixador Rubens Ricupero, disse: "O que é bom a gente mostra; o que é ruim, a gente esconde". Pois é: a frase de Lula não passa de uma adaptação de idêntico espírito. Poderia ficar assim: "Eu mostro o que me interessa e me escondo quando não me interessa". Uma importante diferença separa uma frase da outra: Ricupero soltou a sua sem saber que ela cairia no domínio público (foi capturada por uma parabólica quando o ministro conversava com o jornalista Carlos Monforte, da Rede Globo). O embaixador jamais teria coragem de repeti-la de público, porque sabe da sua incorreção (perdeu o cargo por ela). Já Lula diz basicamente a mesma coisa sem qualquer tipo de pudor, constrangimento ou reserva. É uma frase profundamente reveladora da corrosão do comportamento republicano no pobre país tropical. O presidente da República, em vez de responder também ao interesse público, pauta-se unicamente pelo seu interesse pessoal. Quando lhe interessa, livra-se até dos amigos mais próximos (Dirceu, Palocci, para citar só dois exemplos). Não é por má conduta, déficit ético, nada disso. Valeu apenas o interesse de não contaminar sua candidatura.

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