A extrema esquerda prestou duas grandes colaborações à formação do Brasil: a) a organização do crime como partido político e 2) a falácia de que a pobreza é a grande responsável pela violência. No primeiro caso, os bandidos se aproveitaram do leninismo que lhes foi ensinado na cadeia pelos "camaradas" para revertê-lo em favor do crime — ou, melhor ainda: de uma nova modalidade de crimes, que não aqueles que Lênin e a canalha endossariam. O bolchevismo, como variante do terrorismo e do banditismo político, vestiu a roupa da delinqüência social. Seu "Lênin" é Marcola. Este rapaz, diga-se, seria um devorador de livros, inclusive da obra do facínora russo. O "companheiro" Vladimir é hoje lido regularmente em duas grandes organizações com agendas muito ativas: o MST e o PCC. No petismo, sobram alguns renitentes, velhos admiradores da múmia assassina. Mas já são minoria. A canalha sindical quer é viver bem: Lênin que se dane! Essa renúncia é o melhor aspecto de seu caráter... Até quando os bandoleiros invadem o laboratório da Aracruz ou levam o terror ao campo, tudo nos parece muito bem e sob controle. Agora vemos uma outra variante do crime organizado a levar pânico às cidades. E, então, nos assustamos. A responsabilidade do governo federal no descalabro que se vê em São Paulo é óbvia. Leiam a respeito a análise de Rui Nogueira. A desídia do poder público, de forma mais genérica, com o mundo do crime também salta aos olhos. Liliana Pinheiro escreve a respeito. Atenho-me ao que ousaria chamar de ideologização do crime organizado, tendo como alvo certo pensamento que santifica a violência e transforma os bandidos em heróis. Infelizmente, isso está posto cotidianamente nas televisões, na imprensa e é fundamento de muitas ONGs que dizem combater a violência, mas que funcionam antes como sucursais do crime. Procurem na Internet, nos jornais e nas TVs. O que mais se vê são "especialistas", com raras exceções, fazendo críticas severas ao governo de São Paulo. Alguns jornalistas, falando em lugar de Aloizio Mercadante, o candidato do PT ao governo do Estado, já põem o levante do PCC como resultado de "12 anos de governo tucano". A exploração eleitoral que Lula disse que não seria feita já está em curso. Sua fala foi mais uma senha do que um veto. O governo que não tirou do papel o Plano Nacional de Segurança oferece agora, de forma cínica, "ajuda" ao Palácio dos Bandeirantes. Que ajuda? Por que Márcio Thomaz Bastos não dá um jeito de impedir a entrada de armas ilegais no país? Por que não se ocupou de criar um cadastro único das secretarias de Segurança dos Estados? Por que não encaminhou uma emenda reformando a Constituição e unificando as Polícias? Ajuda? O Palácio do Planalto faz rigorosamente o que Lula disse que não faria: exploração eleitoral do medo que se disseminou em São Paulo. Não há um maldito ato criminoso que não esteja assentado numa idéia também criminosa — ainda que, como o demônio, ela venha vestida em pele de cordeiro. Pol Pot descobriu as "virtudes" da chacina e do massacre com seus professores maoístas franceses. O poder no Brasil está dividido entre o crime comum organizado e os criminosos políticos porque certo pensamento que ser quer "progressista" decidiu que a miséria era uma espécie de verdade revelada de uma nova escolástica, que seria socorrida, no plano das idéias, pelo marxismo. Ora, então não foi o Apedeuta o primeiro a sair dizendo que a violência no Brasil vai diminuir quando houver mais inclusão social? Querem mais provas? Cadê as associações que falam em defesa dos direitos humanos para protestar contra a morte de quase uma centena de pessoas direta ou indiretamente ligadas à segurança pública? Quantos policiais precisam ser mortos pelo PCC para que valham, ao menos, uma Dotothy Stang? Aliás, quase ao mesmo tempo em que a freira foi assassinada por pistoleiros, um policial foi torturado e morto num acampamento de sem-terra em Pernambuco. Não se derramou uma lágrima pelo desgraçado. Essa escolástica tarada da esquerda criou mortos com pedigree — aqueles de sua turma — e mortos vira-lata: todos os outros. Apontei isso à época. Os "progressistas" disseram que só o fiz porque, claro, sou um direitista. Pois agora o MSL — o Movimento dos Sem-Lei — resolveu nos sitiar em nossas casas, no maior centro urbano do país. E, então, nos damos conta de que, de fato, estamos com problemas. Problemas que não decorrem, como quer o Apedeuta-chefe, da miséria, mas da impunidade e da falta de competência das autoridades para lidar com o crime — autoridades em amplo espectro, incluindo, claro, o Judiciário, que parece especialmente talhado para jogar o país na anomia. Por curiosidade, tentem saber quanto tempo o Poder Público demora para exonerar um funcionário público que seja flagrado descumprindo o seu dever, seja num posto qualquer do INSS, seja numa penitenciária. Onde estão os padres de passeata para, ao menos uma vez na vida, acender uma vela a Deus, em vez das reiteradas que acendem ao diabo, transformando facínoras em vítimas de iniqüidades que estão em suas mentes perturbadas e em sua teologia caolha, mas não na sociedade? Estarão eles ministrando missas, encomendando o corpo dos fiéis mortos pelo crime, dando conforto às famílias? Não! Podem ser encontrados sob os holofotes, dando a sua contribuição demoníaca a todos os erros, condenando não os bandidos, mas o Estado de Direito, a quem caberia a verdadeira culpa. É óbvio, é fatal, que o petismo vai tentar transformar os mortos em votos e que já vê abrir-se em São Paulo uma janela de oportunidades para fazer seu proselitismo. Só falta agora o senador Eduardo Suplicy (PT-SP)) ir à porta de cada presídio rebelado para cantar Blowing in the wind. A exploração da questão da segurança, a rigor, já vinha sendo feita pelo PT por conta das rebeliões na Febem. A minha esperança é que a Pastoral Policial possa botar juízo na cabeça dessa gente. Como? Inexiste uma Pastoral Policial? Mas ela não seria o complemento óbvio da Pastoral Carcerária? Por que diabos o Deus dessa gente não gosta de olhar para homens comuns, que seguem as leis, pagam impostos e não matam ninguém? Que o futuro governador de São Paulo se mire em exemplos internacionais para saber como foi que países como a Alemanha, a Itália e a França, dentre outros, deram cabo das organizações criminosas, políticas ou não, que estavam incrustadas nos presídios e que tratamento dispensou a seus líderes para que parassem de impor a sua lei ao cidadão comum. Mais do que isso: mesmo sabendo que há problemas cuja natureza requer o concurso da Federação, será preciso agir como se ela não existisse. Se não atrapalhar, já está de bom tamanho. Nenhum homem nasce bom. Ele tem de ser coagido a cumprir as leis democraticamente instituídas. E ponto final. [ reinaldo@primeiraleitura.com.br] |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, maio 16, 2006
O crime santificado Por Reinaldo Azevedo
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