Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 16, 2006

Luís Nassif - Um dia de cão





Folha de S. Paulo
16/5/2006

O secretário Saulo de Castro Abreu Filho é o responsável direto pelo maior desastre da história da segurança pública do Estado, em um governo que elegeu o tema como a sua maior prioridade.
Parte das mortes poderia ter sido evitada, simplesmente se o secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo tivesse avisado a tropa de que haveria a remoção do alto comando do PCC. Compreende-se o sigilo quando a ação está sendo organizada. Depois de tomada a decisão, não poderia em nenhuma hipótese ter deixado de alertar os policiais. Qualquer policial saberia que remoção de comandos criminosos é uma ação que provoca represálias e tomaria suas precauções. Por essa omissão indesculpável, não apenas Saulo mas todas as autoridades que sabiam da remoção terão que responder perante as famílias dos policiais assassinados.
Depois, terão que responder pelo decantado serviço de inteligência da Secretaria da Segurança. Não prever uma bomba terrorista é uma coisa. Não ter conseguido prever uma operação que mobilizou dezenas de criminosos é um espanto.
Se metade dos efetivos da Polícia Militar tivesse saído à rua ao primeiro sinal de ataque, essa tragédia não teria se consumado.
O PCC vem se articulando dentro e fora dos presídios, desde 1993, quando surgiu como organização no presídio de Tremembé, perto de Taubaté. Há pelos menos dois anos se fala do planejamento de ações de grande envergadura. Por falta de instrumental, há anos o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa -de sólida visão jurídica-, tem solicitado, em vão, a presença da polícia nos presídios e a ajuda dos serviços de inteligência. Sabe-se quem entra e sai da cadeia, tem-se a ficha de cada um e, no entanto, os serviços de inteligência -ligados ao secretário da Segurança- foram inúteis.
Há mais responsáveis. Todas as recomendações dos especialistas são que a maneira mais eficaz de estrangular o crime organizado é cercear suas atividades financeiras de duas maneiras: impedindo a circulação de dinheiro e coibindo as atividades que, de alguma forma, possam estar ligadas ao crime organizado.
No plano federal, o Banco Central do governo Lula ampliou enormemente as facilidades para a remessa de dinheiro para o exterior. Por aqui, pratica-se lavagem de dinheiro a céu aberto. Na semana passada, era possível ler em vários jornais o grande banqueiro de investimentos vangloriando-se de possuir centenas de milhões de dólares em paraísos fiscais, nas barbas do Ministério Público e da Secretaria da Receita Federal deste país. Pelos dutos que passa o dinheiro frio, passa também o dinheiro de origem criminosa.
No plano estadual paulista, um projeto de lei visando coibir as atividades dos bingos e máquinas de apostas -apontadas por muitos especialistas como caminho para a lavagem de dinheiro do crime organizado- foi vetado pelo ainda governador Geraldo Alckmin.
No final da tarde, liguei para minha filha mais velha, que mora perto da Paulista, para saber se estava tudo calmo. Sua resposta mostra bem o estado de espírito do paulistano:
"Tudo calmo. Acho que os bandidos estão com medo do novo governo de São Paulo, o PCC".

 

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