| A crise já estava prevista |
| artigo - Alberto Tamer |
| O Estado de S. Paulo |
| 11/5/2006 |
Neste momento em que a América do Sul se divide e enfraquece qualquer poder de negociação com os demais países e blocos do mundo, numa espécie de "intra-isolamento", é oportuno lembrar que já havia nítidos sinais de que isso iria acontecer. Não por motivos ideológicos, mas comerciais, de interesses próprios sobrepondo-se a compromissos regionais. Vejamos o contencioso Uruguai-Argentina, que levou o presidente uruguaio, um homem de esquerda, a praticamente romper com o Mercosul e ir a Washington negociar diretamente com Bush. Ele quer defender os interesses do seu país. Tudo começou com o que ficou conhecido como a "Guerra das Papeleiras" entre Argentina e Uruguai, ambos parceiros no Mercosul. Em 2003, o então presidente uruguaio, Jorge Batlle, autorizou a construção de duas fábricas de papel e celulose pela finlandesa Botnia e a espanhola ENCE na cidade de Fray Bentos, em frente à província argentina de Entre Ríos. Surgiu logo um movimento dito "ambientalista" do outro lado do Rio Uruguai, encampado pelo governo Kirchner. Alegação: as duas fábricas afetariam o meio ambiente e o turismo na Argentina. E surgiu o impasse. O atual presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, defende um investimento externo que representa, ainda na fase de construção das fábricas, 3,2% do PIB do país e 1.600 empregos diretos. Era um projeto vital para o país. Ao mesmo tempo, ele, apesar de eleito por uma coligação de esquerda, foi aos EUA negociar diretamente com Bush um acordo bilateral que beneficie seu país, mesmo sabendo que isso o alijaria do Mercosul. Nessa história, o Brasil deu a entender que o problema não era com ele... Afinal, qual era o papel de cada um? O Papel do Uruguai O Uruguai usa a "Guerra das Papeleiras" como catalisador dos problemas enfrentados pelo país no Mercosul. Não é novidade para ninguém que a idéia do Itamaraty de um eixo Buenos Aires-Brasília "no esta listo" para Uruguai e Paraguai. As negociações do esdrúxulo Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC) entre a Argentina e o Brasil foram vistas como uma desfeita por Montevidéu. O governo Vázquez insiste em uma tomada de posição do Brasil no confronto com a Argentina. Não quer mais ser tratado como o primo pobre. Foi negociar com Bush como a dizer: "Prestem atenção em mim, que sou pequeno, ou deixo o Mercosul e enterro de vez as aspirações brasileiras de liderança regional!" Está no seu papel. O Papel da Argentina Do governo Kirchner, não se pode afirmar que não tem bons negociadores. Nem de longe. Com a mesma "ficha" consegue arrancar concessões de vários lados - ou do mesmo lado várias vezes, como parece ser com o Brasil. Conseguiu do governo Lula não só a MAC, mas a utilizou para conseguir prorrogar o livre comércio no setor automotivo e manter as listas de exceção do bloco. No caso do Uruguai não é diferente. Buenos Aires tem suas próprias papeleiras rio acima. O que o governo Kirchner quer mesmo é que as fábricas venham para o seu lado... Está no seu papel. O Papel dos EUA O governo Bush entrou de gaiato na história, mas se comporta como gavião. Ao acolher o presidente uruguaio, Washington mostrou sua intenção de colocar o Mercosul, e o Brasil em particular, no beco sem saída das negociações comerciais. A política comercial americana continua realizando acordos bilaterais, para reduzir o seu déficit comercial . Eles já abandonaram a Alca. Os acordos bilaterais firmados com Austrália, a América Central e os países Andinos são prova dessa estratégia. O que todo mundo também sabe é que o Congresso americano não é favorável a novos acordos, nem com o Uruguai; ele teme perder empregos internos e os EUA já enfrentam a insuperável competição comercial da China, da Índia, dos países do leste asiático, e, agora, da Rússia e do Japão. Os americanos querem mesmo é mais acesso aos seus produtos, pois, mesmo com o recente aumento das exportações, carrega crescente déficit comercial. Sabem que, no ritmo atual, poderão terminar o ano com um déficit só comercial da ordem ou até mesmo superior a US$ 1 trilhão. Eles também estão no seu papel. O Papel do Brasil Até agora, está indefinido. O governo Lula parece buscar uma "aliança estratégica" (como aquela com a China?) com a Argentina e promete mundos e fundos ao Paraguai e ao Uruguai. Mas até agora nada se concretizou. E, como o ministro Celso Amorim reconheceu no Senado,nos últimos anos o Brasil cortou pela metade, de US$ 1 bilhão para US$ 500 milhões, as importações do Uruguai. "Eu, se fosse uruguaio, também estaria desiludido com o Mercosul", afirmou ele. A recente confusão com a Bolívia serviu apenas para amarrar de vez as mãos do País em matéria de política externa na América do Sul. Em matéria de política comercial, então, nem se fale. Será que estamos fazendo o no nosso papel? Quem vive o Mercosul do real acha que não. Para empresários como Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de Relações Internacionais da FIESP, "o papel do Brasil é defender o que ele próprio sugeriu em sua proposta de "Objetivo 2006" para o bloco, que não previa qualquer tipo de mecanismo como a MAC, mas instrumentos para integrar os sócios menores. Nós, empresários, em seminário recente sobre o Paraguai, mostramos que é possível ter uma agenda positiva e pragmática sobre o assunto, impulsionando investimentos para toda a região". Enfim, o que precisamos é uma política comercial externa que não existe. Eu sei que isso não é novo, já dissemos e repetimos aqui, mas dura tanto que nos prejudica cada vez mais.
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