| Merval Pereira - A corrupção e o voto |
| O Globo |
| 3/2/2006 |
Não é à toa que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu a palavra de ordem para a campanha tucana deste ano: atacar a “ladroagem”. Até mesmo o uso da palavra “ladroagem” tem razão política, é mais agressiva e também muito popular. É como falar em “carestia”, em vez de inflação, torna as percepções mais nítidas. Pesquisa da empresa Ipsos-Opinion mostra que, além de a corrupção ser vista como um grande mal pela maioria dos brasileiros, a percepção é de que existe corrupção no governo Lula. De acordo com opinião da maioria dos pesquisados, são necessárias leis e penas mais duras, e Justiça que realmente mande prender. Na Região Sul do Brasil, onde Lula é pior avaliado, essa análise é mais severa. Eles acham que a solução da corrupção não está na Justiça, nem na população, nem nas leis, mas sim nos próprios políticos, “que não cobram honestidade entre eles”. Opção escolhida por 29% dos pesquisados, sobe para 53% no Sul do país, o que mostra qual será a reação da opinião pública aos acordos que estão sendo firmados entre os partidos políticos para não cassar deputados. A tão propalada reforma política só se torna solução contra a corrupção entre os mais instruídos e os mais ricos. O item “acabar com a propaganda política”, como parece ser a tendência da Câmara, ficou com apenas 2% na lista das coisas que é preciso fazer para acabar com a corrupção. A pesquisa mostra nitidamente que não existe uma solução única ou inovadora, as pessoas não sabem o que fazer para solucionar o assunto. A questão da corrupção como determinante dos resultados de eleições em diversos países é matéria de estudos e teses acadêmicas, sendo a de maior repercussão política no momento a denominada “A Psicologia política das reações dos eleitores a um escândalo de corrupção”, de autoria dos professores André Blais e Patrick Fournier, da Universidade de Montreal, Joanna Everitt, da Universidade de Nova Brunswick, Elisabeth Gidengil, da Universidade de McGill, e Neil Nevitte, da Universidade de Toronto. A pesquisa teve como base o estudo de um escândalo de desvio de recursos federais aplicados na publicidade para conscientizar a população sobre a unidade nacional, depois de um quase empate no plebiscito sobre a soberania de Quebec. Ocorrido poucos meses antes da eleição nacional de 2004 no Canadá, o escândalo está tendo conseqüências políticas até hoje. Os liberais perderam a maioria absoluta naquela eleição, e depois de quase um ano de crise, acabaram perdendo o governo para os conservadores nas eleições realizadas mês passado. O Rio Estudos, da Prefeitura do Rio de Janeiro, publicou o estudo, segundo o qual a taxa maior de rejeição aos liberais na primeira eleição veio daqueles que acham que política é um jogo sujo, e os políticos não valem nada. Esses eleitores são chamados de “céticos” ou “cínicos” no estudo. Uma questão crucial desses estudos, dizem eles, está ligada à identificação dos culpados, e nesse ponto o caso canadense se assemelha com o nosso. Assim como Lula, o então primeiro-ministro Paul Martin alegou desconhecer completamente a corrupção no programa de propaganda, embora fosse o ministro das Finanças na ocasião em que os problemas aconteceram. Ele substituiu o primeiro-ministro Jean Chrétien dois meses antes de um relatório com denúncias tornar-se público, e jogou toda a culpa nele. Desde o início, declarou que o escândalo era “inaceitável” e “intolerável”, e criou uma comissão de inquérito para “apurar tudo”. Um dos pontos do estudo foi tentar descobrir se a opinião pública aceitava a alegação de Martin de que não sabia de nada. Uma esmagadora maioria (78%) acreditava que sim, ele tinha culpa. Na verdade, o escândalo provocou fortes sentimentos negativos, revela o estudo. Estes sentimentos foram produzidos, sobretudo, pelas percepções de corrupção muito difundidas. Os cidadãos podem conviver com um pouco de corrupção, mas ficam furiosos quando vêem muita, dizem os acadêmicos. Para os pesquisadores, o resultado mais impactante é que o sentimento de indignação como tal não teve nenhum efeito independente na decisão de voto. Estes achados são coerentes, segundo os pesquisadores, com o ponto de vista de que os eleitores prestam mais atenção aos acontecimentos e decisões mais recentes, o que, transplantado para nossa realidade, dá a vantagem ao presidente Lula mostrada nas atuais pesquisas de opinião. O impacto do escândalo na escolha de voto, ao que parece, foi motivado por uma combinação de percepções; nenhum fator dominante determinou a decisão de voto. Os professores canadenses chegaram à conclusão de que presumir que as informações sobre escândalos maiores, intensamente cobertos pela mídia, alcançam todas as pessoas é um erro. “Nosso estudo nos convida a reconsiderar esta pressuposição. Os menos atentos tinham probabilidade muito maior de acreditar que havia pouca corrupção, possivelmente porque mal haviam ouvido falar no caso”, afirmam. Isto sugere, dizem eles, que a estratégia mais comum dos políticos quando estão direta ou indiretamente envolvidos num escândalo, que é evitar a questão, na esperança de que ele desaparecerá da tela do radar, não é má estratégia, do seu próprio ponto de vista. Quanto menos as pessoas ouvirem falar sobre um escândalo, menor o prejuízo. Mais uma vez, se transpusermos esse sentimento do eleitor para o Brasil, explica-se por que o governo quer encerrar logo as CPIs, e a oposição quer prorrogá-las. O prefeito Cesar Maia, avaliando as conseqüências de longo prazo do escândalo que levou os liberais a perder o comando do governo no Canadá, é taxativo: “É muito difícil fazer campanha política contra acusações de corrupção”. |
Entrevista:O Estado inteligente
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