Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 21, 2006

JANIO DE FREITAS Você e os eleitores

FOLHA
Os três estão reunidos para escolher quem lhes pareça mais indicado, entre os dois personagens discutidos há meses, para chegar à Presidência da República. Chamam para a conversa um dos dois, que está relutante entre o desejo arrebatador e os temores soturnos, inseguro até da própria insegurança. Embora não o demonstrem, os três têm também os seus receios, porque sabem da disposição do ausente de lutar pela escolha, e não sabem até onde iriam suas reações à possível preterição.
Esclarecimento urgente: como todo leitor está sempre predisposto a desvendar sentidos inexplícitos nos textos, com toda a certeza você já deduziu que o parágrafo anterior refere-se à conversa de Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati e Aécio Neves, para a qual José Serra foi chamado. Engano lastimável, ainda mais porque confunde a peculiaridade eleitoral das ditaduras com uma prática adotada em plena democracia eleitoral brasileira.
Os três da reunião relembrada são o general Médici e os ministros da Aeronáutica e da Marinha. O relutante, chamado à conversa, é o general Adalberto Pereira dos Santos, preferido pelo general Médici. O general Ernesto Geisel é o segundo personagem em cogitação, posto por si mesmo, e que à sua disposição granítica junta a determinação germânica do irmão Orlando, ministro da Guerra.
Para ser franco, é chocante a sua confusão entre a cena do passado e a de agora. As diferenças entre o método eleitoral da ditadura e o da democracia atual -no caso, aplicado pelo partido que ostenta o nome de Partido da Social DEMOCRACIA Brasileira- são diferenças claríssimas.
Os generais tinham vergonha do autoritarismo de seu método, por isso faziam suas reuniões em gabinetes discretos, inacessíveis aos olhares do povo.
Pelos jornais e pela TV, pôde-se comprovar que o senso democrático dos três comandantes do PSDB reuniu-os em público, bem à vista do povo freqüentador do restaurante Massimo, que não se perde pelo nome, seja o cardápio considerado pela coluna da esquerda ou a da direita. E como democracia é alegria, lá estava a mesa para a observação do leitor menos desatento, com as garrafas de vinho a substituir, cada uma ao preço de quase um meio salário mensal de um operário do mínimo, a laranjada das reuniões ditatoriais.
No esclarecimento, perdi o rumo e o espaço do que ia contar. Convenhamos que não faz diferença.

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