Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Clóvis Rossi - A fossa, século 21

Clóvis Rossi - A fossa, século 21


Folha de S. Paulo
3/2/2006

MADRI - Para o leitor mais jovem, esclareço que fossa era palavra comum em meados do século passado. Designava um indefinível mal-estar.
Está de volta, versão século 21. Já relatei, nesta Folha, o desconforto de brasileiros, todos vencedores, com o papelão que o país desempenhou no recém-encerrado encontro anual 2006 do Fórum Econômico Mundial. Foi do "dá vergonha", dito pelo empresário Alain Belda, chefão mundial da Alcoa, a "o Brasil perdeu o momento", do ministro Luiz Fernando Furlan.
Agora, para fechar o círculo, a Folha publica, na mesma edição, três artigos que, de diferentes maneiras, transitam pelo lamento, para não dizer fossa.
Ricardo Abramovay (USP) cobra, na página A3, uma nova utopia. Embora dirija seu texto fundamentalmente à esquerda e aos movimentos sociais, poderia perfeitamente fazê-lo ao conjunto dos grupos e pensamentos políticos, que parecem empenhados apenas em discutir quem foi mais medíocre, se o medíocre governo FHC ou o medíocre governo Lula.
No caderno Dinheiro, Paulo Nogueira Batista Jr. lamenta que o Brasil pareça ter envelhecido prematuramente. "Exibe todos os receios, as cautelas, os achaques, as queixas da idade avançada. Multiplicam-se os sintomas de perda de vitalidade e de autoconfiança".
Na Ilustrada, Contardo Calligaris afirma que "o país nos parece sofrer de um déficit mais fundamental, que nenhuma política econômica sarará, um déficit moral".
Por fim, em Cotidiano, Cláudia Collucci informa que "mais da metade dos estudantes do sexto ano de medicina e dos médicos recém-formados avaliados pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo não souberam reconhecer um quadro grave de trauma torácico que pode levar a pessoa à morte em poucas horas".
A fossa fica mais justificada porque, enquanto isso, Lula e seus adversários cantarolam distraídos.

@ - crossi@uol.com.br

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