Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 18, 2005

Thomas Friedman :Os carros híbridos da Toyota

The New York Times
Eu tenho uma pergunta: se eu estiver torcendo para a General Motor declarar falência e ser comprada pela Toyota, isso faz de mim uma pessoa ruim?


Não que eu queria que os operários da indústria automobilística percam seus empregos, mas eu certamente não vestiria um terno preto se a equipe inteira da gerência da GM fosse demitida e substituída por executivos da Toyota. Na verdade, acho que a única esperança para os funcionários da GM, e talvez até mesmo para nosso país, é com a Toyota. Vamos encarar a verdade, quando a Toyota se for, os EUA vão junto.

A Toyota tomar o comando da General Motors – que baseou sua estratégia de negócios na produção de carros a gás, incluindo o Hummer idiota, ridicularizando a tecnologia híbrida e combatendo esforços do congresso para impor padrões de milhagens mais altos sobre as companhias automotoras americanas – não seria apenas de interesse econômico americano, também seria de interesse geopolítico dos EUA.

Porque a Toyota foi pioneira na tecnologia de motor híbrido, isso pode ajudar a resgatar nossa economia não apenas de seu vício em petróleo (que tal 800 quilômetros por galão de gasolina?), mas também de nossa política externa de dependência dos autocratas do petróleo do Oriente Médio.

Difundir a tecnologia híbrida da Toyota é uma das chaves para o que eu chamo de "geo-ecológico". Geo-ecológico pretende combinar em um único movimento político, ambientalistas que querem reduzir os combustíveis fósseis que causam mudanças climáticas, evangélicos que querem proteger a terra verde de Deus e todas as suas criações, e geo-estrategistas que querem reduzir a dependência americana no petróleo cru, porque isso abastece alguns dos piores regimes no mundo.

A indiferença absoluta da equipe de Bush em desenvolver uma estratégia geo-ecológica – que também fortaleceria o dólar, reduzir nosso déficit comercial, tornaria os EUA o líder mundial no combate das mudanças climáticas e estimularia companhias dos EUA a tomarem a frente na produção de tecnologias ecológicas, que o mundo vai desesperadamente precisar quando a China e a Índia se industrializarem – é tão irresponsável que te deixa sem fôlego. Isto é especialmente verdade quando você percebe que as soluções para nossos problemas já estão no país.

Como Gal Luft, co-presidente da coalizão Set America Free ("Liberte os EUA"), aliança bipartidária da segurança nacional, trabalho, ambiente e grupos religiosos, que acredita que a redução do consumo de petróleo seja uma prioridade nacional, aponta: a maioria das importações de petróleo dos EUA serve apara abastecer o setor de transporte – principalmente carros e caminhões. Então, a chave para reduzir nossa independência no petróleo estrangeiro é movimentar nossos carros e caminhões com menos petróleo.

Há duas maneiras de fazer isso. Uma é eletricidade. A gente não importa eletricidade. Nós geramos todas as nossas necessidades com carvão, energia hidrelétrica e nuclear e gás natural. Os carros híbridos da Toyota, como o Prius, funcionam tanto com gasolina quanto com eletricidade. Mas, disse Luft, se você tivesse um híbrido que pudesse ser colocado na tomada à noite, a bateria seria suficiente para andar por mais de 32 quilômetros por dia. Então os primeiros 30 quilômetros seriam feitos pela bateria. A gasolina só seria usada depois disso. Já que a maioria dos americanos não dirige mais do que 30 quilômetros por dia, a energia da bateria seria o suficiente.

Por enquanto a Toyota não vende híbridos que ligam na tomada. Alguns entusiastas, entretanto, estão usando kits para converter seus híbridos em carros elétricos com plug-in, mas isso significa um acréscimo de milhares de dólares – e você perde a garantia da Toyota. Imagine, entretanto, se o governo encorajasse, pela política de impostos e outros incentivos, cada automotora a oferecer este tipo de híbrido elétrico? Nós iríamos rapidamente mandar para baixo a curva de inovação e terminaríamos com plug-ins melhores e mais baratos para todos.

Então acrescentar a isso, carros de combustíveis flexíveis, que possuem um chip especial e linha de combustível que os capacita a queimar álcool (etanol ou metanol), gasolina ou qualquer mistura dos dois. Cerca de 4 milhões de carros dos EUA há chegam equipados desta maneira, incluindo da GM. O custo é de apenas US$ 100 por carro. O Brasil espera que todos seus novos veículos sejam de combustível flexível até 2008. Como Luft nota, se você combina um sistema híbrido elétrico com sistema de combustível flexível, que queima 80% do álcool e 20% de gasolina, você poderia acabar esticando cada galão de gasolina para mais de 800 quilômetros.

Resumindo, a gente não precisa reinventar a roda ou esperar por hidrogênio de ficção científica. A tecnologia que precisamos para um EUA mais independente de energia já está aqui. A única coisa que falta por enquanto são líderes com imaginação e vontade para levar o país a um caminho geo-ecológico.

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