Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 18, 2005

Eminências: pardas, cinzas e vermelhas Por Alberto Dines

ultimo segundo
Tratamento para cardeais, eminência significa relevo, relevância. Figuras de proa, príncipes da Igreja, os cardeais usavam habitualmente a cor púrpura para distinguirem-se do baixo-clero sempre de preto. O Cardeal Richelieu, o manda-chuva de Luís XIII (1610-1643), conhecido como o Eminence Rouge, mandava ostensivamente.

Mas o poder atrás do poder, invisível, inacessível, intocável era o confidente do rei, o obscuro pére, padre, Joseph (François Leclerc, ex-Marquês de Tremblay antes de ordenar-se Capucho) conhecido como Eminence Grise.

A mutação do discreto cinza francês para a cor parda em português pode explicar-se através dos meandros da nossa preconceituosa tinturaria antropológica mas o que interessa no momento é a sábia e sofisticada distinção estabelecida há quase quatro séculos no esquema absolutista com os dois tipos de eminências, a rubra e a cinza.

José Dirceu saiu – ou caiu, dá no mesmo --  porque não prestou atenção à sutil nomenclatura francesa. Entregou-se ao fascínio de ser  o todo-poderoso iluminado pelos holofotes e imaginou que, ao mesmo tempo, poderia ser o mandarim que desliza nas sombras. Não podia dar certo, esta é uma duplicidade impossível de administrar. Richelieu mandava e desmandava mas o ex-aristocrata e agora  padre Joseph cochichava nos ouvidos do rei o que estava certo ou errado.

O ex-chefe da Casa Civil talvez tenha reparado na armadilha mas faltou um Luis XIII para desarmá-la. O rei  nada tinha de fantoche, talvez sequer soubesse o que era dialética mas soube usá-la com maestria servindo-se de Richelieu como operador e pére Joseph como seu aparador. Nada acontecia sem o seu consentimento. Não foi incluído no rol dos reis-filósofos mas teve o bom-senso de controlar a adrenalina que pode ser decisiva no processo de chegar ao trono mas costuma ser letal depois da coroação.

Adrenalina ou delírio onipotente, a verdade é que o governo desperdiçou mais da metade deste mandato e antes mesmo de arrancar para uma nova fase o Campo Majoritário do PT parece ainda intoxicado pelos mesmos e perniciosos agentes.

Quando Dirceu e Genoíno  denunciam uma campanha de desestabilização promovida pela oposição e Marta Suplicy deblatera contra o "macartismo" apenas exibem a desgastada estratégia da "eleição permanente"  e da "guerra continuada". Por enquanto ainda não apareceu o desvairado de plantão para acusar a Justiça Eleitoral de programar a propaganda eleitoral do PSDB para a noite de quinta-feira quando o PT deveria anunciar o contra-ataque. Aparecerá.

A oposição e principalmente o PSDB, erraram ao insistir no nome do senador César Borges (PFL-BA) para presidir a CPI dos Correios. Ao escolher um afilhado do suspeitíssimo e decadente senador ACM para presidir um inquérito sobre corrupção demonstraram não possuir  qualquer sensibilidade política e senso crítico. Queriam apenas forçar a imagem da "operação-abafa".

Ninguém está berrando "Fora Lula !" como aconteceu nos dois mandatos anteriores quando o mesmo "macartismo" agora denunciado por Marta Suplicy levava a militância às ruas para berrar "Fora FHC !". Não será desta forma que o deputado José Dirceu e o Campo Majoritário do PT conseguirão reverter ou disfarçar os reveses das últimas semanas.

Desfalcado da eminência rubra e com as eminências cinzas (ou pardas) reunidas em assembléia, o presidente Lula deverá valer-se da sua proverbial intuição para tomar decisões cruciais que tornam quase irrelevante a substituição de José Dirceu. A mais importante será provar que acabou a fase das eminências.

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